domingo, 13 de março de 2016

APÓS UM ANO AS PESSOAS VOLTAM ÀS RUAS PARA PROTESTAR COBRANDO O IMPEACHMENT. VOCÊ VAI?


13/03/2016


Instabilidade política, somada às incisivas fases da Lava Jato, à recessão econômica e à redução do poder de compra do cidadão turbinam protestos no País


Desde que a presidente Dilma Rousseff assumiu o segundo mandato, após vencer uma das mais tensas disputas eleitorais do período democrático, o governo tem enfrentado sucessivos episódios de pressão popular. Hoje novos atos estão agendados em todo o País. Há um ano, no começo da gestão, o clamor das ruas já ecoava o pedido de impeachment, na maior manifestação desse período, que reuniu milhões; só em Londrina, 45 mil pessoas. Desde então, a instabilidade política e a reconhecida dificuldade do Planalto de negociar com o Congresso, somadas às incisivas fases da Operação Lava Jato, desembocaram na estagnação econômica e redução do poder de compra do cidadão, turbinando a insatisfação social.

Além da crise na economia, as recentes denúncias de corrupção envolvendo o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva fizeram surgir um novo foco, embora o líder petista não ocupe cargo nenhum na administração. O ex-presidente foi denunciado pelo Ministério Público em São Paulo e é investigado na 24ª fase da Lava Jato. "É importante notar que, apesar de pedirem o impeachment da presidente, o foco nos últimos dias é o ex-presidente Lula, que não está no governo, mas é o fato político do momento", lembra o analista político e professor de Filosofia da Universidade Estadual de Londrina (UEL), Elve Cenci. "Se não fossem os últimos acontecimentos, a manifestação cairia no vazio, embora já estivesse marcada há mais tempo", opina Cenci.

Para o também professor de Ética e Filosofia Política da UEL, Clodomiro José Bannwart, as mobilizações ainda não deram resultado, seja o impeachment ou mudanças no rumo do País. Ele relembra a insatisfação que vem desde o período pré-Copa do Mundo. "As manifestações abertas em junho de 2013 não estão conclusas. Mais uma vez as pessoas vão às ruas, porém, agora mais focadas, tentando dar uma contribuição social diante dessa crise política que estamos vivenciando."

Bannwart afirmou que as eleições para a Presidência da República dividiram o eleitorado, "colocaram as pessoas em perspectivas diferentes e isso não foi equacionado ali nas eleições, ou seja, a polarização foi além do processo eleitoral e, além disso, no decorrer desse ano, tivemos uma intensificação da Lava Jato".

Cenci, porém, alerta que o movimento anunciado para hoje não está necessariamente voltado contra a corrupção, na medida em que combate o PT o governo Dilma. "Pelo que se vê, essa passeata, na verdade, não é contra a corrupção, e sim contra o governo federal, contra o PT. Isso não tira a legitimidade da manifestação, isso é democracia, mas a corrupção vai além."

Segundo o cientista político David Verge Fleischer, professor emérito da Universidade de Brasília (UnB), as manifestações devem complicar ainda mais a situação da presidente Dilma Rousseff. "Isso tudo pode jogar ainda mais lenha na fogueira. Os protestos vão pressionar muito os deputados indecisos e os que são a favor do impeachment", avaliou, lembrando ainda que a análise do processo deve ser retomada pelo Congresso nas próximas semanas. "Até o (Jorge) Picciani, que era o líder pró-Dilma do PMDB, um grande cacique no Rio de Janeiro, já largou as mãos dela e disse que o governo não tem mais que 90 dias. Vai abrir para a bancada votar como quiser", completou.

O presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB/RJ), já avisou que dará prosseguimento à abertura do processo de impeachment logo após o Supremo Tribunal Federal (STF) decidir sobre os recursos da Câmara contra o rito de tramitação. O STF deve se manifestar na quarta-feira.

De acordo com Fleischer, a grande diferença em relação à queda de Fernando Collor em 1992 é que o PT dispõe de uma militância organizada, que também pretende sair às ruas e defender o mandato da petista, com o argumento de que ela foi democraticamente eleita. "Por outro lado, naquela época nós não tínhamos uma crise econômica tão grave, com desemprego, salários caindo e inflação, e não havia grandes manifestações. Os caras pintadas eram um número muito pequeno de gente protestando", pontuou. (Colaborou Mariana Franco Ramos/Reportagem Local)
Edson Ferreira  

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