Aparece num lago uma mistura de macaco, lagartixa e galinha. Em dias quentes à tarde depois das 18 horas o estranho monstro aparece. Fica próximo da margem do Rio Carmo (foto abaixo), que atravessa as cidades mineiras de Mariana, Acaiaca e Barra Longa. Ataca o gado e, nos últimos tempos, até seres humanos. Essa é a descrição do Caboclo d’Água dada pela população das redondezas.
“É uma história antiga, meu pai já a escutou quando era pequeno. As crianças sempre eram advertidas a não nadar no rio ao entardecer”, diz Leandro Henrique dos Santos, diretor do jornal O Espeto. Nos últimos oito anos, porém, as histórias voltaram com força total: “Dizem que o monstro  é responsável pela morte de um jovem que nadava com os amigos”, explica Santos. “De repente, ele afundou e emergiu morto em meio a muito sangue, com os testículos arrancados”.
Com o aumento da quantidade de causos, o jornal elaborou um “retrato falado” do bicho, também conhecido como Nego d’Água. Santos e  Milton Brigolini Neme, professor da Universidade Federal de Ouro Preto, fundaram  a Associação de Caçadores de Monstros e Assombrações em 2009.
O objetivo deles é verificar a existência de seres incomuns que aparecem nas histórias contadas no interior. Além do Caboclo d’Água, o maior caso, existem outros 32 mistérios em estudo, como a Mãe do Ouro, que espantou garimpeiros no bairro de Bento Rodrigues ao rodopiar com uma luz brilhante; ou o Lobisomem do Pezão, lobo que até hoje não atacou ninguém, mas assusta com pegadas gigantes deixadas na terra.
A associação, que já tem cerca de quarenta membros, usa equipamentos eletrônicos, como GPS e câmeras automáticas. Com isso, já derrubaram o mito de que uma casa na região era assombrada. O proprietário escutava som de passos, mas eram apenas gases que se desprendiam do terreno pantanoso e faziam a madeira estalar. “Queremos checar tudo de maneira científica”, diz Santos. “É muito fácil culpar o sobrenatural por coisas que não compreendemos”. Para ele, o Caboclo d’Água pode ser um mutante de alguma espécie animal da região.
Tentando desmistificar o assunto, o professor Neme decidiu oferecer há quatro anos uma recompensa de 10 mil reais a qualquer um que consiga fotografar a criatura. A associação oferece os dados de localização já coletados e até mesmo transporte até os equipamentos onde montam vigia. Até agora, ninguém conseguiu.