segunda-feira, 13 de março de 2017

ESCOLA SEM PARTIDO: ESTÃO BRINCANDO COM A EDUCAÇÃO!



Lecionei em escolas públicas : História, Geografia, Sociologia, Educação Moral e Cívica, Organização Social e Política Brasileira ... noções de direitos, deveres, cidadania...e "abrindo" a cabeça dos jovens sobre o que é política. Acabaram com tudo isso... agora Escola Sem Partido.
Lembrando Paulo Freire constatou que toda prática de Ensino, sobretudo a que se propõe neutra, é carregada de ideologia. O nosso patrono da educação sempre suspeitou das ingenuidades de quem propunha algum tipo de neutralidade no ensino. Desde a ênfase a isso ou naquilo, a seleção de conteúdo, a organização didática: tudo está cercado de ideologia, de modo que, fugir dela, termina sendo uma forma de encontrá-la em outro lugar.
Escola Sem Partido: Uma forma de nos desviar dos verdadeiros problemas da educação!
O mundo acadêmico está cercado de controvérsias. Tudo, na verdade, parece depender de qual ponto de partida tomaremos para entender os fatos: Descobrimento ou Achamento do Brasil? Expansão ou Invasão do/pelo Império Romano? Por que adotamos a perspectiva eurocêntrica para dividir o mundo entre ocidente e oriente? Podemos passar o dia todo citando casos em que há uma certa disputa ideológica. Mas preciso desenvolver o texto.
Me parece que o projeto ”Escola sem partido” flerta com os interesses de grupos que querem exorcizar a política e impor a verdade que mais corrobora com a sua visão, muitas vezes, restrita de mundo. Um exemplo disso está na expressão – nada científica – que consta na lei do projeto supracitado:  ”ideologia de gênero” , sentença criada por grupos conservadores para bradar contra qualquer tipo de discussão de gênero (que não seja aquela percepção bíblica que eles defendem).  Só com isso, já podemos perceber que o projeto está maculado pela própria perspectiva unívoca de um certo grupo político.
Outra parte do projeto que me chamou a atenção foi uma em que eles reduzem a posição do estudante a uma reles audiência cativa, desprezando toda bagagem cultural e social que caracteriza a autonomia do aluno. Para Freire, o aluno não é um robô que apenas assimila o que lhe é passado, é um sujeito social e também leva um certo conhecimento para a escola, portanto é um ser que também transmite seu código de vivências e experiências para o seu professor, não é uma mera esponja.  Essa bagagem cultural do aluno advém de sua vivência e constitui a sua forma de se relacionar, para que possamos compreendê-lo como sujeito social, é preciso que se entenda isso.
Como tentar expurgar a política da educação? Mesmo que o professor consiga abordar as amplas perspectivas sobre determinado assunto, mostrando as diversas contradições e posicionamentos, sempre haverá uma manifestação – mesmo que implícita – de sua posição política: o brilho nos olhos, o maior destaque em certos pontos, maior conhecimento.  O aluno precisa entender que esta manifestação não é isenta e aí está a importância de se entender que o professor não é uma máquina neutra e sim um ser humano com posições.
O aluno, quando abrir uma VEJA ou uma Carta Capital, deverá entender que o jornalismo, apesar de se travestir de neutralidade, também vai ao encontro de intenções e ideologias. Assim como alguns livros de história, ainda que sejam aqueles que apresentam a maior quantidade de posições. O bom aluno é aquele que consegue entender quando a ideologia está velada, querendo lhe convencer pelo engano e pela aparência de neutralidade.
Outra discussão que se se suscita através da tal ”pluralidade de ideias” como forma de imparcialidade, é a tentativa de transmutar a religião para a ciência, tornando como viável e científico entendimentos religiosos, como, por exemplo, o criacionismo cristão. Coisa que deveria ser ensinado na disciplina de  Religião.
Boa parte do Projeto de lei ”Escola Sem Partido” já é previsto na constituição, a própria escola já possui mecanismos para lidar com professores que fazem pregações em sala de aula (isso sim deve ser combatido). O projeto é uma forma de culpar os professores pelos grandes problemas na nossa educação, no entanto, sabemos que o problema é bem mais embaixo.
Sabemos também que o professor ganha um salário pífio, o que o incapacita, muitas vezes, de preparar uma aula de forma mais proveitosa e lucrativa para o aluno, considerando que terá que se ocupar de outros empregos para se sustentar. Para que se altere a realidade social, no que concerne à educação, é preciso que se aja em função de mudanças que atuem nos verdadeiros problemas que se apresentam como barreira para garantir uma educação mais frutífera e instigante. Escola sem partido só serve para nos desviar das reais complicações na educação brasileira.

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