sexta-feira, 12 de janeiro de 2018

DA FOLHA DE LONDRINA : MORADORES COBRAM MELHORIAS E PRESERVAÇÃO DE ESPAÇOS PÚBLICOS!










Fotos: Marcos Zanutto
Centro Social Urbano da Vila Portuguesa foi construído em 1979: aspecto de abandono

 "A valorização de espaços públicos em vazios periféricos, que ficam à margem das áreas mais urbanizadas, pode fomentar o uso e a qualidade de vida de áreas dormitórios, e ainda alavancar o desenvolvimento de regiões muitas vezes esquecidas na dinâmica da cidade". A afirmação é da arquiteta Simone Gatti, formada na UEL (Universidade Estadual de Londrina) e doutora pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo. 
No entanto, o que se vê em Londrina são espaços públicos cujo potencial apenas alimenta o desejo dos moradores. São áreas que nem sempre recebem a devida manutenção ou estão de acordo com as necessidades da população. 
O Centro Social Urbano da Vila Portuguesa, região central, que passou recentemente por uma limpeza e remoção de sedimentos do córrego Bom Retiro para evitar enchentes, é um dos poucos espaços que integram lazer e praça esportiva no município. Mesmo assim seus frequentadores reclamam da falta de manutenção e de atualização do espaço às necessidades da população. 
O alambrado das quadras esportivas está danificado, algumas tabelas de basquete não existem mais, há buracos na pista de skate, o gramado foi destruído em alguns pontos e uma edificação que já foi utilizada como almoxarifado e vestiário foi destruída por um incêndio. 
A falta de conservação de lixeiras, de bancos e de outros mobiliários do espaço proporcionam aos frequentadores um aspecto de abandono. "O local precisa passar por um retrofit", orientou Lopes, utilizando uma expressão inglesa para designar a modernização de algum equipamento já considerado ultrapassado. 



Lagoa Dourada, no jardim Monte Belo: pinguelas no lugar de pontes

ZONA NORTE
O lago Cabrinha (zona norte) é outro espaço com parque infantil e equipamentos de ginástica. Implantada em 2005, sua estrutura está bastante deteriorada. "Não fazem a limpeza, os aparelhos de educação física estão destruídos, os bancos e as placas com a metragem da caminhada estão quebrados", criticou a professora de educação infantil Ana Maria da Silva Batista. "A falta de manutenção inibe a frequência das pessoas que praticam exercício ou usam o espaço para o lazer." 

A aposentada Alaíde de Lurdes Barcelos mora em frente ao lago e diz que tudo está danificado. "Antes vinha todo mundo fazer exercício, agora o pessoal não vem mais por causa da falta de manutenção. Falta roçagem, a iluminação fica encoberta pela copa das árvores. Ficou bastante perigoso", apontou. 



Área do lago Cabrinha: bancos, aparelhos e placas destruídos

ZONA SUL 
No outro lado da cidade, na zona sul, a lagoa Dourada carece de infraestrutura. A operadora de máquinas injetoras Eliane Maria Tessaro é moradora do jardim Piza e costuma fazer caminhada no meio da rua, porque no entorno da lagoa não tem calçada. "Eu tenho medo de andar por dentro do fundo de vale, porque tem muita gente estranha. Seria justo ter uma calçada em volta daqui", expôs, acrescentando que ali não há iluminação pública, faltam equipamentos de lazer e de ginástica. "Para atravessar a lagoa deveriam construir uma ponte, mas aqui só tem pinguelas", acrescentou. 

O morador do jardim Monte Belo, Luís da Costa, reclama que muita gente joga lixo, andarilhos deixam roupas e papelão por ali e há falta de remoção de árvores. "Isso aqui é um presente de Deus, mas aqui as áreas verdes não são cuidadas da mesma forma que Maringá, por exemplo. Lá os espaços públicos são bem mais cuidados", comparou. 

Valorização dos espaços de lazer
A arquiteta Simone Gatti analisa que os espaços públicos não são tão valorizados como antigamente porque nas últimas décadas houve uma proliferação de novos modelos de habitação, que incorporaram o lazer, como os condomínios clubes e os condomínios fechados. "As classes média e alta passaram a concentrar seu lazer nos espaços privados em detrimento do espaço público, que ficou destinado para as camadas sociais de menor renda, principalmente nas cidades pequenas e médias. Juntamente a isso há um descaso e omissão do poder público com estes espaços, sobretudo quando localizados nas áreas periféricas." 

Questionada sobre como valorizar esses espaços novamente, Gatti destacou que muita coisa mudou desde o tempo dos nossos avós. "Sobretudo o aumento da desigualdade social e de pessoas em condições de vulnerabilidade. É um problema social e de saúde pública que não se resolve apenas com o cuidado dos espaços públicos, mas com políticas de inclusão social e de geração de emprego e renda para as camadas mais vulneráveis da população", apontou. 

Ainda de acordo com a arquiteta, "o papel das prefeituras é reforçar a limpeza e a manutenção dos espaços públicos, para que permaneçam em ordem independentemente de quem o frequenta. Quando mais bem cuidada a cidade estiver, mais a população cuidará dela. E vale ainda campanhas de conscientização ambiental para o bom uso destes espaços." 

Gatti afirmou que a reforma e revitalização de espaços públicos deve ser planejada considerando os recursos existentes e a necessidade dos municípios, a fim de que os investimentos sejam aplicados em todas as regiões da cidade, de preferência incluindo a população nos processos decisórios. "Uma reforma que desconsidera os interesses e necessidades dos usuários não será bem recebida pela população e consequentemente não será apropriada por ela." 

Ela é autora do manual de Espaços Públicos- Diagnóstico e metodologia de projeto, elaborado dentro do projeto Soluções para Cidades, que é um programa de apoio aos municípios, com o objetivo de acelerar e qualificar o desenvolvimento urbano. Mais informações no 
(http://solucoesparacidades.com.br/wp-content/uploads/2017/12/Espacos-Publicos-WEB.pdf) 

O doutor em Geografia Carlos Bortolo, de Londrina, afirma que o poder público não pode ser considerado um agente produtor neutro nessa questão da definição de prioridades de investimento nos espaços públicos. "Existem inúmeros interesses. Os recursos existem, embora não em grandes quantidades. Por que em determinados bairros existem parques, lagos, praças bem cuidadas e com usos variados e muito atrativos e em outros bairros tais espaços se encontram abandonados e mal cuidados? A resposta é simples. Tudo é uma questão de interesse do mercado imobiliário e até mesmo do poder público local", apontou. 



Marcos Zanutto
Fundo de vale do Albatroz: antigo depósito de lixo e entulhos

A área onde fica a nascente do Ribeirão Limoeiro, no fundo de vale do Albatroz (zona leste de Londrina), foi, durante muito tempo, local com pouca arborização e onde os carroceiros lançavam entulhos. Em 1998 o contador aposentado Massayoshi Iwase, 71, abraçou a causa de revitalizar a área. Durante 15 anos realizou o plantio de árvores frutíferas, grama e flores, além da manutenção. "Quando cheguei estava tudo abandonado. O pessoal depositava entulhos embaixo da placa de proibido jogar lixo", relata. "Tudo começou a mudar quando passei a plantar flores. O pessoal começou a respeitar mais." 

Hoje ele diz orgulhoso que há mais de 40 tipos de árvores frutíferas no espaço e que isso tem sido aproveitado tanto pelos moradores da região quanto pelos animais que começaram a frequentar o local. "Hoje é possível encontrar quati, tatu, paca, jacu, saracura, entre outros animais. Por outro lado, os escorpiões e aranhas que ficavam nos entulhos desapareceram", apontou. 

Falta de verbas é entrave 
A falta de recursos é um dos principais entraves para execução de melhorias nos espaços públicos localizados em áreas periféricas de Londrina, segundo os responsáveis da administração municipal ouvidos pela reportagem. O presidente do Ippul (Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Londrina), Nado Ribeirete, afirmou que a equipe está analisando todos os projetos que estavam parados referentes aos espaços públicos e querem colocar em prática tão logo for possível. "Estamos mexendo no projeto do lago Igapó e de sua barragem e fizemos o projeto de implantação de campos de futebol nas zonas norte, leste e sul", citou, explicando, no entanto, que não existe dotação orçamentária para algumas obras. 

Já o presidente da FEL (Fundação de Esportes de Londrina), Fernando Madureira, destacou que manutenção das academias ao ar livre é cara e depende de recursos de emendas parlamentares. Ele ressaltou que a FEL pretende cobrir oito quadras esportivas, construir cinco pistas de skate e cinco campos de futebol society, garantindo que algumas delas seriam em bairros periféricos ou distritos rurais. 

Sobre o campo do lago Cabrinha, na zona norte, Madureira disse que vistoriou o local recentemente e avaliou que a estrutura está boa. Com relação ao CSU da Vila Portuguesa, afirmou que precisa avaliar o espaço. "Nem todos os problemas estão mapeados devido a equipe reduzida que a FEL possui." 

Sema aposta em parcerias com a comunidade 
A Companhia Municipal de Trânsito e Urbanização (CMTU) fará a reposição das lixeiras que se encontram danificadas nos fundos de vales do lago Cabrinha, CSU da Vila Portuguesa, Monte Belo e da avenida Arthur Thomas. A programação do serviço será feita assim que a companhia concluir a confecção dos novos recipientes, que estão em fase de produção agora em janeiro. Quanto à capina e roçagem, a CMTU informa que faz o serviço a cada dois meses nesses locais. No Cabrinha e Lagoa Dourada, a última vez foi em novembro. No CSU o corte foi em dezembro. 
A secretária municipal do Ambiente, Roberta Queiroz, destaca que a pasta possui vários projetos de recuperação de espaços públicos em parceria com a comunidade. "Temos um projeto com escolas para promover a ocupação desses espaços, além de ser uma forma de tornar a população em agentes fiscalizadores", destacou. "Não adianta a administração municipal cuidar de tudo. Com essas parcerias com escolas e instituições que tem nos procurado é possível ficar mais próxima da população", destacou. 


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