terça-feira, 9 de janeiro de 2018

ENTREVISTA COM OSWALDO PITOL "O PODEROSO CHEFÃO" DA FOLHA PARA O BLOG!










JAN. 06, 2018


O poderoso chefão
De infância simples a empresário de sucesso, Oswaldo Pitol revela sua história de luta e ascensão, entre os desafios de quem escolheu Londrina para trabalhar e viver

 Da infância pobre ao privilégio de ter fundado uma das maiores empresas da região. Aos 72  vive a vida trabalhando porque acredita ainda ter muito para contribuir e desfrutar.
Oswaldo Pitol senta-se atrás da mesa em uma sala particular. Ao fundo, o cenário de uma Londrina cosmopolita transpassa os vidros que dividem a sala da sacada. A imagem icônica poderia ter sido escrita para o cinema, cujo personagem principal é um homem de negócios sério e formal, mas o olhar calmo, sorriso fácil e trajes confortáveis amenizam o peso da cena e do bigode. O empresário - agora londrinense honorário – transformou, junto com três sócios, o investimento de 2 mil dólares em grande companhia que faturava ao ano 500 mil dólares, quando foi vendida.
Anderson Coelho



Aos 72 anos, Oswaldo Pitol não pretende parar de trabalhar. "Se as pessoas tivessem noção que dá para começar uma nova profissão após 60, 70 anos... Nessa idade elas têm ainda 30 anos até morrer perto dos 100".
Mas para chegar nessa história, Pitol viaja no tempo e relembra uma infância no subúrbio de São Paulo, onde nasceu. "Meu pai era mecânico e quando eu era moleque, vinha sujo de graxa da oficina com ele. Eu entendo bastante", daí a paixão por carros antigos. O original Studebaker Erskine Six, de 1930, o único no Brasil, havendo apenas seis no mundo, circula por Londrina quando Pitol se entusiasma. "Por onde eu vou, muita gente pergunta sobre ele. Já ganhei prêmios com ele porque é exclusivo", afirma. Para desfrutar do veículo, recorda a burocracia na importação e toda a documentação que deixou pronta para não ter problemas.Uma realidade diferente da do pai, que, mesmo mecânico, só pode usufruir de um veículo quando o filho mais velho lhe deu um. "E ele dirigiu até os 100 anos de idade", destaca o vigor do pai, que viveu até os 103 com lucidez e alegria. A despedida veio por conta de complicações nos rins e ocorreu em um domingo de passeata contra um personagem da política brasileira. "Todo mundo foi no velório de camiseta amarela... Foi esquisito", recorda em tom de compreensão.
Pitol sempre teve participação ativa na política, desde a presidência no Diretório Acadêmico, enfrentando a Ditadura Militar, quando estudava agronomia na Universidade Federal Rural do Rio Grande do Sul até as contribuições sociais voluntárias em conselhos de diversas instituições. Além disso, destaca a participação na derrubada da Lei da Muralha e também na modernização dos sistemas de tecnologia da Prefeitura de Londrina. "Esse tipo de trabalho desgasta muito, porque tem retaliação, muitos perguntavam se eu sairia para prefeito ou governador, mas não sou filiado a partido nenhum. Isso não está no meu projeto de vida. Na política, você entra de uma forma e corre o risco de sair de outra. Eu vim de militância", explica-se.
Da militância à realidade. A primeira casa própria que morou foi construída tendo o pai como pedreiro e a mãe de servente. "Meu pai não tinha muito estudo, mas tinha noção da importância de estudar, por isso fez muito empenho para que eu e minhas duas irmãs finalizássemos os estudos", afirma. Quando o primogênito completou 12 anos, a família mudou-se para o Rio Grande do Sul a convite de uma ferrovia que prometia um bom emprego ao pai. Quatro anos depois, o desemprego levou o patriarca a trabalhar como caminhoneiro e Pitol a fazer o curso de técnico agrícola, em Viamão (RS). "Escolhi porque tinha comida, cama e estudo". Finalizado o curso, entrou para a universidade em período integral, dando aulas de matemática à noite.
Dedicado, passava as férias estagiando nas empresas, tentando se aprimorar para garantir o emprego no fim do estudo. E conseguiu. Dois anos trabalhando em uma multinacional aprendeu tudo sobre herbicidas, mas tinha ambição e impaciência de menino. "Eu percebi que eles nomeavam pessoas de fora para serem nossos chefes, nunca colegas que tinham competência e experiência. Vi que demoraria muito para crescer. Não teria futuro", relembra.
Então decidiu, com mais três colegas, fundar a Herbitécnica Defensivos Agrícolas, em 1970. Por conta do novo trabalho, mudou-se de Bauru (SP), onde ficava a matriz, para Londrina, onde a empresa se desenvolveu. Pitol casou-se em 1972 e teve três filhas, todas criadas e educadas na nova cidade de terra fértil, local em que a Herbitécnica se tornou Milênia Agrociências, em 1998, e foi adquirida pela israelense Makhteshim Agan, em 2001.
Após a venda, decidiu que não iria trabalhar durante os próximos seis meses. Promessa que descumpriu em 60 dias. Hoje preside o Grupo Empresarial Seven, atuando no desenvolvimento de empresas, e não pretende parar. "Se as pessoas tivessem noção que dá para começar uma nova profissão após 60, 70 anos... Nessa idade elas têm ainda 30 anos até morrer perto dos 100", anima-se e orienta: "se você se aposentou, comece uma nova atividade. Vai aprender música, vai estudar russo. Comece a vida de novo e daqui 30 anos ela vai valer diferente."
Esse é o entusiasmo de quem vai fazer 73 anos em março, mas que sustenta um "corpinho de 60", como ele brinca, fazendo atividade física três vezes na semana, "odeio, mas faço", e por isso aguenta andar e subir escadas como um menino. Porém, sabe diminuir o ritmo. "Agora reservo um tempo para mim, eu adoro ler. Aprendi a trabalhar melhor, não tomo mais decisão sozinho. A decisão é coletiva e a cobrança também", ressalta. O ritmo diminui, mas a atividade continua porque sabe que está na melhor fase da vida. "Uma pessoa de 70 anos vai fazer melhor que uma de 50", defende-se.
De espírito jovem, ri sobre a tecnologia, da qual usa e tem pavor ao mesmo tempo. "Aquilo é um ladrão de tempo", referindo-se às redes sociais e smartphones. No entanto, reconhece que com as inovações, consegue controlar o trabalho de qualquer lugar do mundo. "Eu me lembro uma vez que eu fui pra fora, a trabalho, e me pediram um dado da empresa que eu não tinha. Eu precisa entrar em contato, o dado que eu pedi de manhã, veio no fim do dia. O telex era uma maravilha! O fax uma coisa sensacional, que além da resposta rápida, fazia fotos dos documentos, ficou muito mais fácil", recorda.
Marido, pai de três filhas e avô de sete netos. O coração divide-se entre São Paulo, Estados Unidos e Londrina, onde uma das netas tem o privilégio de ter o avô para buscá-la todos os dias na escola. Em setembro de 2017, Oswaldo Pitol recebeu o título de Cidadão Honorário do Município, em que proferiu discurso homenageando a cidade onde formou sua família. "Eu, felizmente, cheguei naquilo que queria. Eu sempre quis ser pé-vermelho e agora sou com muita honra. Londrina foi a cidade que escolhi."


Lais Taine

Reportagem Local

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