Mazzaropi - Quando eu comecei minha vida artística, muito pouca gente que vai ler esta história existia. Nasci em 1912, e na época em que comecei tinha uns quinze anos. Naquele tempo, o gênero de peças que fazia sucesso no teatro era caipira. E, como todo mundo, eu gostava de assisti-las. Dois atores, em particular, me fascinavam. Genésio e Sebastião de Arruda. Sebastião mais que Genésio, que era um pouco caricato demais para meu gosto. Nem sei bem por que, de repente, lá tava eu trabalhando no teatro. Mas não como ator - eu pintava cenários. Aliás, eu amava a pintura, sempre amei a pintura. Pois bem, um belo dia "perdi" o pincel e resolvi seguir a carreira de ator. No começo procurei copiar a naturalidade do Sebastião, depois fui para o interior criar meu próprio tipo: caboclão bastante natural (na roupa, no andar, na fala). Um simples caboclo entre os milhões que vivem no interior brasileiro. Saí pro interior um pouco Sebastião, voltei Mazzaropi. Não mudei o nome (embora tivessem cansado de me aconselhar a mudá-lo) por acreditar não haver mal nenhum naquilo que eu ia fazer. Os amigos diziam que Mazzaropi não era nome de caipira, que era nome de italiano, mas eu respondia para eles que, se não era, iria virar. Que eu não tinha vergonha do que ia fazer e, por isso, ia fazer com meu nome. E o público gostou do meu nome, gostou do que eu fiz. Turnês em circos, teatros, recitando monólogos dramáticos, fazendo a platéia rir, chorar. Mas sempre com uma preocupação: conversar com o público como se fosse um deles. Ganhava 25 mil-réis por apresentação quando comecei, passei a ganhar bem mais quando montei a minha própria companhia (1). De nada adiantou a preocupação dos meus pais quando eu saí de casa: "quem faz teatro morre de fome em cima do palco". Eu fiz e não morri, pelo contrário, sempre tive sorte - sempre ganhei dinheiro. Mas eu era bom, era o que o público queria.
Em 1946 assinava um contrato na Rádio Tupi - onde fiquei oito anos. Em 1950 ia para o Rio de Janeiro inaugurar o canal 6, e começava minha vida na televisão (2). Um dia, num bar que havia pegado ao Teatro Brasileiro de Comédia, entrou Abílio Pereira de Almeida. A televisão estava ligada, o programa era o meu. Ele me viu. Uma semana depois, uma série de testes me aprovava para fazer o meu primeiro filme: "Sai da Frente". Meu primeiro salário no cinema - 15 contos por mês. No segundo já ganhava 30, depois 300, hoje eu produzo meus próprios filmes. E o público, como no meu tempo de circo, vai ver um Mazzaropi que faz rir e chorar. Um Mazzaropi que não muda.
Observações do Museu Mazzaropi
(1) Após realizar seu último filme pela Cinedistri, Chico Fumaça, de 1956, Mazzaropi já era famoso no cinema nacional e resolveu que estava na hora de investir em si mesmo. Isso porque via as grandes filas no cinema e eram, geralmente, os donos das produtoras que sempre ganhavam muito dinheiro.
O sucesso de Chico Fumaça fez com que Mazzaropi comentasse com sua mãe, Dona Clara, que o proprietário da companhia Cinedistri, sr. Massaini, ganhara muito dinheiro com o sucesso dos filmes em que ele participara e pediu para que ela o apoiasse num investimento que pretendia fazer.
Ele queria produzir um filme, mas para levar seu projeto adiante não hesitou em se desfazer dos seus bens: dois carros Chevrolet americanos, terrenos, economias bancárias e perguntou ao seu filho de criação, Péricles Moreira, se fosse necessário, se ele não se importaria em trocar o colégio particular por um colégio estadual. Mazzaropi ficou apenas com o terreno do Itaim Bibi.
Em 1958, consegue produzir seu primeiro filme, Chofer de Praça. Não foi fácil, no início teve que alugar os estúdios da Cia Vera Cruz para as gravações internas e as filmagens externas foram rodadas na cidade de São Paulo com os equipamentos alugados da Vera Cruz. Estava inaugurada a PAM Filmes - Produções Amácio Mazzaropi.
(2) Na verdade, em setembro de 1950, Mazzaropi, com 38 anos, estreava na TV Tupi de São Paulo o mesmo show que tinha sido sucesso durante muito tempo na Rádio Tupi: Rancho Alegre - o programa era ao vivo, todas as quartas, às 21 horas.
Quatro meses depois, janeiro de 1951, Mazzaropi é convidado para a inauguração da TV Tupi no Rio de Janeiro. No alto do Pão de Açúcar, onde se achava instalada a torre transmissora, acontece a grande festa com a presença do Presidente, General Eurico Gaspar Dutra.
A apresentação do show inaugural coube a Luis Jatobá, primeiro locutor da Tupi carioca.
Mazzaropi também passou pela TV Excelsior fazendo parte de um programa de sucesso na época, apresentado por Bibi Ferreira, Brasil 63.
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Quando eu morrer, me chamarão de gênio, disse Mazzaropi
da Livraria da Folha
Hoje, a importância de Amácio Mazzaropi para a história do cinema e da
comédia no Brasil é reconhecida. Em sua época, porém, ele recebia críticas
duras da chamada elite cultural. Por falar com simplicidade, usando a
"língua do povo", os intelectuais consideravam os seus filmes superficiais.
12.fev.1963Edvaldo Silva/Acervo UH
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Ator Amácio Mazzaropi, famoso por seu personagem caipira, durante
entrevista
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"Pois é, falam mal de mim", disse Mazzaropi no fim de sua
carreira. "Só quero ver quando eu morrer. Daí vão fazer festivais com meus
filmes e tem gente que é capaz de dizer até que eu fui um gênio."
Nascido em São Paulo (SP), no bairro de Santa Cecília, ele fugiu com o
Circo La Paz aos 14 anos. Viajou pelo interior do país na companhia circense,
período que inspirou alguns de seus personagens, como o caipira.
A Companhia de Teatro de Emergência foi criada por Mazzaropi em 1935.
Uma década depois fechou um contrato com a rádio Tupi do Rio. Seu primeiro
filme, "Sai da Frente", chegou aos cinemas em 1951.
Sete anos mais tarde montou sua própria produtora, a Produções Amácio
Mazzaropi - Pam Filmes.
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