"O celibato não é um dogma de fé, é uma regra de vida que eu aprecio muito e creio que seja um dom para a Igreja", analisou Francisco
O papa Francisco disse que as regras do celibato clerical podem mudar e admitiu a possibilidade de a Igreja ter novos papas eméritos, a exemplo de Bento 16, que renunciou em 2013. A declaração foi dada Na terça-feira, durante o voo de retorno a Roma depois da visita à Terra Santa.
"Creio que Bento 16 não seja um caso único. Haverá outros ou não? Só Deus sabe, mas essa porta está aberta", afirmou o papa.
"Há 70 anos não havia bispos eméritos. O que ocorrerá com os papas eméritos? Creio que devemos ver Bento 16 como a uma instituição que abriu uma porta: a dos papas eméritos", disse Francisco após a visita de três dias pelo Oriente Médio. "Creio que o papa que sente que suas forças diminuem deve se fazer as mesmas perguntas que se fez o papa Bento 16."
Durante a viagem, Francisco se encontrou com o patriarca ortodoxo grego de Constantinopla, Bartolomeu 1º, na Basílica do Santo Sepulcro, em Jerusalém. Durante a entrevista, Francisco foi questionado sobre o que se podia aprender com os ortodoxos, "por exemplo, sobre o celibato". Francisco lembrou que a Igreja Católica tem padres casados. "Existem no rito oriental. O celibato não é um dogma de fé, é uma regra de vida que eu aprecio muito e creio que seja um dom para a Igreja." Em seguida, deixou claro que mudanças podem ocorrer na regra do celibato: "Não sendo um dogma de fé, sempre está a porta aberta."
O papa disse que não tratou do celibato com o patriarca ortodoxo. Revelou que o tema da conversa foi a unidade entre as duas igrejas, o que, segundo Francisco, não se constrói em um congresso de teologia.
Para caminhar em direção a essa unidade, Francisco citou a necessidade de resolver "o problema da data da Páscoa", pois muitos ortodoxos vão a igrejas católicas e vice-versa. "Conversamos sobre o concílio pan-ortodoxo para que se faça algo sobre a data da Páscoa. Porque há uma situação um pouco ridícula: Quando ressuscitou teu Cristo? O meu na semana que vem. E o meu, em vez disso, na semana passada. A data da Páscoa é um símbolo de unidade."
Por fim, ao ser perguntado sobre as expectativas que seu papado despertava, como mudanças na exclusão da comunhão dos divorciados que decidem se casar novamente, o papa lembrou que o Sínodo de outubro será "sobre a família, seus problemas, suas riquezas e a situação atual". "Não me tem agradado que muitas pessoas, até dentro da Igreja, tenham dito: "o Sínodo servirá para dar a comunhão aos divorciados que voltaram a se casar, como se tudo se reduzisse à casuística: se poderá ou não dar a comunhão? Sabemos que a família hoje está em crise e essa é uma crise mundial. Os jovens não querem casar. É preciso estudar os procedimentos de nulidade matrimonial, estudar a fé com que uma pessoa se aproxima do matrimônio. É preciso esclarecer que os divorciados não estão excomungados... E muitas vezes eles são tratados como se estivessem."
José Maria Mayrink e Marcelo Godoy
Agência Estado
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