terça-feira, 1 de julho de 2014

CORAÇÕES DE PEDRA: DUAS MÃES DEIXAM SEUS FILHOS SOZINHOS NO CARRO!

Uma foi à loja rapidinho e a outra, em uma entrevista de emprego; ambas foram denunciadas

Por Mariana Della Barba 30/jun 04:43
Nos últimos dias, li duas histórias chocantes de mães que, por motivos diferentes, deixaram seus filhos sozinhos no carro.

Na primeira, uma escritora americana chamada Kim Brooks estava arrumando as malas para embarcar em um voo com os filhos, quando percebeu que o fone de ouvido do mais velho estava quebrado. Decidiu sair rapidinho para ir comprar, e o filho, de 4 anos, quis ir junto. Chegando na loja, o menino não quis descer. Apressada, ela o deixou sozinho no carro por alguns minutos. Voltou, foi pro aeroporto, pegou o avião e, ao chegar, ouviu um recado no celular.

Era um policial dizendo que ela corria o risco de ser presa, porque havia sido denunciado por uma pessoa que viu o menino no carro sozinha e chamou a polícia. Quando os policiais chegaram, Kim e seu filho já haviam saído. Mas a tal testemunha havia fotografado a placa do carro e, por isso, a investigação continuou.

Resumindo bem, ela acabou  indo a julgamento e se declarando culpada, mesmo não concordando com isso. Recebeu uma pena de um ano fazendo serviços comunitários, algo que ela achou positivo e gratificante. A única coisa que ainda a preocupa é o fato de o filho ter ficado meio traumatizado, achando que alguém vai vir pegá-lo ou que a polícia vai prender a 
mãe.

Corta e dá um pause na cena, até o fim da próxima história.

Bom, o segundo texto que li é muito mais triste. Fala da americana Shanesha Taylor, que estava desempregada quando o episódio aconteceu. Depois de ser demitida enquanto estava grávida, de algum tempo sem trabalho, com dívidas, sem lugar para morar com os dois filhos pequenos e com um marido sumido do mapa, ela foi chamada por uma entrevista de emprego que julgou ter muitas chances.

No dia da entrevista, a babá com quem ia deixar as crianças deu balão. Tentou outras pessoas, mas não conseguiu. Sem alternativas à vista, resolveu dirigir com os filhos (de 6 meses e 2 anos) até o local e deixá-los no carro durante a entrevista.

Resultado? Quando ela voltou, mais de meia hora depois, foi presa pela polícia por abuso de menor. Na delegacia, foi fotografada com lágrimas nos olhos, como se pode ver na foto. 

Quando saiu da prisão, perdeu a guarda das crianças. Passou mais de dois meses sem poder vê-los e agora tem encontros esporádicos. Seu julgamento será no mês que vem.
E então, queixo caído com as duas histórias? O que pensar?

Na minha cabeça, ainda um pouco confusa com esses dois casos, a coisa ficou mais ou menos assim:

As mães erraram em deixar os filhos sozinhos no carros? Claro que sim.

Mas elas são mães ruins por conta disso? Eu acho que não - aliás, quem sou eu pra julgar outra mãe.

As autoridades estão certas de levar adiante as denúncias nos dois casos? Provavelmente sim, já que a função delas é proteger crianças de pais realmente negligentes, que, sei lá, deixam o filho no carro para ir usar drogas ou algo do tipo.

Passadas essas questões iniciais, vêm a tona detalhes mais sutis mas que alinhavam bem os dramas das duas mães.

No caso de Kim o que mais me chamou a atenção foi o fato de a pessoa que a denunciou ter se preocupado em tirar uma foto da cena, e não em ir lá ficar com a criança. 

Se ela estava com tanto medo que algo de ruim acontecesse, não era esse o certo? Ir lá perguntar se o menino estava suando, verificar se ninguém estava por perto para roubá-lo, tirá-lo do carro eventualmente, enfim, oferecer ajuda.

E se a pessoa que a denunciou tivesse simplesmente ficado ao lado do carro pelos poucos minutos em que ela esteve na loja ou, melhor ainda, ter conversado com o menino? Na volta, poderia ter dito algo do tipo: "Olha, estou aqui porque quis checar se estava tudo bem com seu filho ou se vocês precisavam de ajuda."  

Pra mim, faltou solidariedade, sobrou muito denuncismo.

Embora em um grau totalmente diferente, a história de Shanesha também remete a essa questão de falta de ajuda. O governo não deveria ter creches para que ela pudesse deixar os filhos, ainda mais estando desempregada? E o pai das crianças? Uma mulher totalmente desamparada, tendo que lidar sozinha com a difícil tarefa de criar das crianças enquanto procura emprego.

De novo, faltou solidariedade, sobrou denuncismo.

Vamos louvar o fato de elas terem deixado os filhos no carro? É claro que não. Dezenas de crianças morrem todos os anos por conta de atitudes como essas.

Mas é o caso de enfiar o dedo na cara delas, de ameaçar ou efetivamente mandar essas mães pra prisão? Não. Uma sociedade menos paranoica, mais solidária e que cuida melhor das mães e das crianças resolveria o problema.

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