.
Por DEBORA PRICILA SILVEIRA | @oficinadanet em CIÊNCIA
Para o blog Comunicando para Refletir.
A palavra hacker tornou-se bem conhecida e é difícil encontrar alguém que não conheça o significado do conceito ou que não saiba quem são as pessoas identificadas pelo termo. Mas, e biohacking, você já ouviu falar? Biohacking é a prática de misturar biologia com a ética hacker ou, em outras palavras, é a técnica de hackear o seu próprio organismo, com o objetivo de promover mudanças no seu corpo até que ele consiga fazer coisas que não fazia antes, até mesmo conseguir habilidades consideradas sobre-humanas.
Entre os objetivos estão: modificar o organismo para adquirir capacidades especiais, como enxergar no escuro, controlar aparelhos eletrônicos com as mãos, sentir campos eletromagnéticos ou ainda, ficar mais inteligente, produtivo ou focado. Há melhorias para o corpo e mente. Quando falamos sobre biohacking, é comum pensarmos primeiramente nas pessoas que realizam modificações no corpo, implantando chips ou componentes magnéticos. Contudo, também tem muita gente utilizando a técnica de hackear o organismo com outros objetivos, sem precisar realizar nenhum implante, como por exemplo ter mais energia.
Isto pode acontecer ao mudar a alimentação, ingerir suplementos especiais, entre outras atitudes que veremos ao longo deste artigo. Ou seja, a técnica de biohacking não se limita apenas a junção entre um corpo biológico e um componente eletrônico, mas também a elementos externos. Você não precisa se transformar em um ciborgue para ser um biohacker, mas se quiser, esta é uma escolha que só diz respeito a você.
Existem basicamente duas grandes vertentes para o biohacking:
1) Abordagem interativa: neste caso, visando melhorar o próprio corpo, as pessoas utilizam implantes que melhoram a sua capacidade, como por exemplo, injetar uma substância nos olhos para adquirir visão noturna. Estes biohackers são chamados de Grinders.
2) Abordagem não interativa: neste caso, são utilizados elementos externos para melhorar a performance da pessoa, como a utilização de luz azul para dormir mais profundamente, fazer jejum intermitente com o objetivo de aumentar os níveis de energia, entre outros.
Muitos adeptos ao biohacking, identificam-se com o movimento biopunk, como o transhumanismo: crença de que é possível alterar fundamentalmente a condição humana através do uso de tecnologias e fazer um ser humano superior.
O termo biohacker começou a aparecer por volta de 1998, ganhando força nos últimos anos, devido aos avanços tecnológicos. Mas, antes mesmo disto, William Gibson, em um dos seus mais famosos romances do gênero cyberpunk, Neromancer, já havia escrito sobre a técnica. O livro foi publicado pela primeira vez em 1984 e com um pensamento totalmente futurista e fora da realidade que Gibson vivia, ele já descreveu exemplos de ciborgues (Cyber + Organism = junção entre um corpo biológico e componentes eletrônicos, que conseguem conviver em perfeita harmonia). Entre eles está Molly. A jovem tinha um implante sobre os olhos, que funcionava como se fosse um Google, de onde ela obtinha as respostas que precisava. A própria cidade de Chiba, onde se desenvolve parte da trama, era considerada como local chave para a colocação de implantes neurais e realização de outras mudanças corporais. Um braço mecânico, garras que saíssem por baixo das unhas, o que quer que se desejasse alterar no corpo, em Chiba as pessoas conseguiam.
Mas este é apenas um exemplo, entre tantos outros que livros e filmes de ficção científica já nos trouxeram sobre biohackings, mesmo que ainda sem ser identificados como. Outros personagens bem conhecidos do cinema são Robocop, Inspetor Bugiganga, Megamen e Hydro de Mortal Kombat, todos são ciborgues. Parece algo bem surrealista pensar que pessoas assim possam estar entre nós né? Mas os ciborgues já deixaram as telonas e passaram a viver junto de nós há algum tempo. Claro que não exatamente da forma como lemos nos livros ou vemos nos filmes, mas conforme veremos a seguir, tem pessoas realizando experimentos bem malucos - ou não - para garantir capacidades incomuns aos humanos.
Visão noturna
Neil Harbisson é um dos biohackers mais famosos. Ele nasceu com uma síndrome rara que não o permite distinguir as cores. Tudo o que ele olha, enxerga em preto e branco. Para resolver o problema, Harbisson recorreu ao biohacking. Com auxílio de médicos, ele desenvolveu e implantou um sistema que lhe permite ouvir as cores.
Tim Cannon implantou em seu braço um chip que envia seus dados biométricos, como a temperatura corporal, para seu smartphone. O problema, ou não, é que o dispositivo implantado por baixo de sua pele não é um microchip, possuindo proporções bem avantajadas.
Mas Cannon não vê problemas nisso e já prevê melhorias para o dispositivo. Ele espera que no futuro seja possível por exemplo, o chip identificar que ele teve um dia estressante e enviar uma mensagem à sua casa, solicitando que ela prepare uma atmosfera mais relaxante e agradável para quando chegar no recinto, como escurecer as luzes e preparar um banho quente.
Uma das características do biohacking é que ele costuma ser desenvolvido por indivíduos e pequenas empresas, ficando longe de instituições ou acompanhamento profissional. Desde seu início ele segue a corrente do DIY (Do It Yourself - faça você mesmo), pois a ideia é justamente esta de que no futuro todos possam realizar mudanças em seu corpo e organismos, sem a necessidade de serem cientistas. Porém, isto gera grandes riscos para a saúde do indivíduo, já que os experimentos muitas vezes acontecem nas próprias casas do biohackers, sem o acompanhamento de algum profissional ou cuidados específicos.
Por isso é necessário ter cautela. Os experimentos citados acima deram certo, mas sempre há o risco de ocorrer alguma infecção ou um problema ainda mais sério ao se mexer com o corpo. Mas, a ciência evolui muito e não me causará estranheza se no futuro a humanidade conseguir transformar o que quiser em qualquer organismo vivo. E você, o que acha disso?
Nenhum comentário:
Postar um comentário