Como uma estudante de jornalismo descobriu que inseguranças pessoais podem ser ainda mais limitantes que barreiras geográficas
Você já sentiu como se todos os bons eventos do país ficassem só lá pro Sul e Sudeste? (e aí entram shows, eventos, cursos, oportunidades e premiações científicas...) Já sentiu que, às vezes, parece que simplesmente não dá pra competir?
Eu já. E, particularmente, fico revoltada. Ainda mais quando penso nas oportunidades acadêmicas. Minha região é rica e linda demais pra não ser estudada e não marcar presença nas pesquisas científicas do país, minha gente! 3
Não sei vocês, mas eu fico com a terceira opção. Às vezes os melhores projetos do país parecem tão distantes da minha realidade e acho isso uma droga.
Mas por que isso acontece?
Bom, além de passarmos todo o nosso tempo na universidade tendo como referência, majoritariamente, autores das regiões mais "cosmopolitas" do país, como São Paulo, Rio de Janeiro, e vizinhas, também crescemos vendo as vitórias dos estudantes e profissionais daqui como exceções ou fatos extraordinários.Por exemplo, se um projeto feito em uma grande capital ganha prêmios no exterior, a informação é noticiada de determinada maneira. Mas se o mesmo projeto foi criado no meio da Amazônia, o local de origem é o foco da manchete.
Exemplo:
Projeto de estudantes de escola pública ganha prêmio no Brasil e no exterior
(esse é do Distrito Federal)
Estudante de escola pública do Pará ganha prêmios de ciência e viagem aos EUA
Dá a sensação de que os projetos bem sucedidos daqui são exceção. Ei, adoramos levantar nossa bandeira amazônida pro mundo, mas pera aí também, né.
Permeados pela falta de representatividade, enfrentamos outras limitações como:
falta de condições para uma viagem falta de recursos para desenvolver pesquisas nas universidades falta de recursos para desenvolver pesquisas por conta própria (eu, por exemplo, vivi com uma conexão de internet vergonhosa até me mudar para Belém em 2016) acesso reduzido à informação (eu adoraria que na minha cidade tivessem grandes jornalistas dando palestras e cursos toda semana. mas eles estão nas tais grandes metrópoles)Enfim, deu pra entender que é uma bola de neve. Mas essa era só a introdução. Vou contar uma história pra vocês:
Exemplo:
Projeto de estudantes de escola pública ganha prêmio no Brasil e no exterior
(esse é do Distrito Federal)
Estudante de escola pública do Pará ganha prêmios de ciência e viagem aos EUA
Dá a sensação de que os projetos bem sucedidos daqui são exceção. Ei, adoramos levantar nossa bandeira amazônida pro mundo, mas pera aí também, né.
Permeados pela falta de representatividade, enfrentamos outras limitações como:
Você já sentiu que deu 110% de si nos trabalhos da faculdade e, mesmo assim, muitas vezes acabou achando que não foi o suficiente? Eu já deixei muitos editais passarem por causa disso e sempre terminava me culpando. Um ciclo infinito.
E, convenhamos, quando a gente estuda na Amazônia a gente se acostuma a ver que quem tá nessas coisas é galera de Sul e Sudeste. Penso "como eu vou conseguir competir?".
Vez ou outra eu atirava um trabalho pra algum lugar, mas só quando era algo que eu já tinha produzido em sala e só precisava adaptar a formatação de acordo com as orientações do congresso ou premiação. Nunca dava em nada.
Até que duas semanas atrás eu recebi uma ligação de São Paulo.
"Oi Mariana, tô te ligando pra saber se você tem disponibilidade pra receber seu prêmio aqui em São Paulo"
"Prêmio?"
"Sim, os resultados saíram ano passado. Você não viu?"
Minha cabeça *meudeuseuganheiumprêmioosresultadossaíramanopassadoprecisofazerafinaKKKKKKEUNEMSABIASOCORRO*
Eu surtei muito e gaguejei e expliquei de forma fofa que não tinha dinheiro pra isso.
Mesmo assim, depois de muitas conversas e alinhamentos pelo WhatsApp, dentro de duas semanas eu tava de malinhas prontas pra receber dois troféus que seriam entregues a mim por um grande jornalista com décadas de carreira em impresso e rádio.
E não, eu não paguei nada.
E, convenhamos, quando a gente estuda na Amazônia a gente se acostuma a ver que quem tá nessas coisas é galera de Sul e Sudeste. Penso "como eu vou conseguir competir?".
Vez ou outra eu atirava um trabalho pra algum lugar, mas só quando era algo que eu já tinha produzido em sala e só precisava adaptar a formatação de acordo com as orientações do congresso ou premiação. Nunca dava em nada.
Até que duas semanas atrás eu recebi uma ligação de São Paulo.
"Oi Mariana, tô te ligando pra saber se você tem disponibilidade pra receber seu prêmio aqui em São Paulo"
"Prêmio?"
"Sim, os resultados saíram ano passado. Você não viu?"
Minha cabeça *meudeuseuganheiumprêmioosresultadossaíramanopassadoprecisofazerafinaKKKKKKEUNEMSABIASOCORRO*
Eu surtei muito e gaguejei e expliquei de forma fofa que não tinha dinheiro pra isso.
Mesmo assim, depois de muitas conversas e alinhamentos pelo WhatsApp, dentro de duas semanas eu tava de malinhas prontas pra receber dois troféus que seriam entregues a mim por um grande jornalista com décadas de carreira em impresso e rádio.
E não, eu não paguei nada.
Às vezes a gente não imagina que algo tá ao nosso alcance até que PUF, algo incrível acontece e você pensa que é sonho, mas não é. Tipo eu escrevendo esse texto do avião, voltando pra Belém depois de dois dias de almoço e jantar com grandes nomes do jornalismo automobilístico e líderes nacionais de uma das maiores marcas de carro do mundoEu ganhei isso por reportagem que eu mesma não botava fé, que mandei por mandar. E quando cheguei lá fui simplesmente elogiada por gente que eu via apresentando programa na TV.
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