Uma foto da atriz Thaís Fersoza dando um selinho no filho mais novo com Michel Teló, Teodoro, de 2 anos, provocou, recentemente, polêmica das redes sociais. A discussão não é nova e outros famosos, como Tom Brady, o marido da Gisele Bünchen, e a ex-Spice Girl Victoria Beckham também já foram alvo de muitos comentários contraditórios. Afinal, beijar o filho na boca é errado?
Será que existe um limite para as demonstrações de carinho entre os pais e os pequenos? Já adiantamos: não existe um consenso, mas existe o bom-senso. Veja o que dizem especialistas em educação e psicólogos sobre o hábito de beijar os filhos na boca. Para os especialistas que são contrários, o beijo na boca pelos pais é uma demonstração desnecessária, pois acreditam que há outras maneiras de representar o amor pelos filhos. “O beijo na boca é uma forma de relação entre duas pessoas que têm ligação erótica – como um casal – e isso pode confundir a cabeça das crianças”, comenta Renata Bento, psicóloga e membro da Sociedade Brasileira de Psicanálise do Rio de Janeiro.
“A gente precisa entender que a sexualidade existe desde sempre, mas é preciso marcar essa diferença para que elas saibam o que é selinho e o que não é”, completa ela. Outro problema apontado pelos profissionais é o fato do pequeno começar a reproduzir essa conduta com outras pessoas. Como entende que se trata de uma confirmação do sentimento que os pais têm por ele, pode passar a dar selinhos nos coleguinhas e não estranhar quando desconhecidos solicitam o mesmo – o que pode ser perigoso. A psicopedagoga Cristina da Paz destaca que o gesto pode influenciar e mudar o comportamento infantil.“Dificilmente crianças mais novas terão algum dano psicológico por receber beijos dos pais. No entanto, depois de uma certa idade, alguns jovens apresentam mudanças no comportamento. A confusão se dá porque a boca é uma zona erógena. Pelo costume, a criança pode repetir a ação com outras pessoas”, alerta a psicopedagoga.
Já a psicóloga Sally-Anne McCormack é categórica ao defender que o gesto é uma demonstração de amor e que não deve ser encarado como algo sexual: Não há absolutamente nenhuma maneira de beijar uma criança nos lábios seja algo confuso para eles. É como dizer que a amamentação é confusa”, defende Sally-Anne. “Algumas pessoas podem ter problemas com isso, mas não é mais sexual do que fazer uma massagem nas costas do bebê”, completa ela.
Pelo lado emocional, há quem diga que não se deve pôr limites na expressividade do amor e das emoções, porque pode se refletir em uma relação emocional distante, que evite o espaço para demonstrar amor. “Eu, pessoalmente, percebo uma ameaça maior em não expressar afeto aos nossos filhos. Isso sim que me parece grave; o receio, o desapego ou o ódio. Mas o afeto, nunca. Que cada família o expresse como melhor lhe pareça, sempre mantendo o devido sentido comum”, afirma Iván Carabaño, membro da Associação de Pediatria do Hospital 12 de Octubre, em Madri.
O pediatra defende que existe uma clara diferença entre o beijo de pais e filhos e o do casal. “A psicopedagoga María José Lladó vai nessa mesma linha e diz que num contexto em que “tanto quem oferece essas demonstrações de afeto como quem as recebe se sentem cômodos e à vontade, são saudáveis, porque partem do amor incondicional entre pais e filhos. Os beijos são uma expressão de grande estima, e tanto faz o lugar onde sejam dados”. Segundo María, à medida que os pais sentem que não é mais cômoda determinada demonstração de afeto, deixa de fazer, como uma opção pessoal.
“Se nos centrássemos mais no ser e nem tanto no fazer, saberíamos quando, segundo nossa maturidade, dar ou não beijos na boca como expressão de amor, fora do contexto do casal”, diz ela. Há especialistas, ainda, que preferem optar por um meio termo, defendendo que o melhor caminho é sempre optar pelo diálogo.
É o caso da psicóloga Thais Campo Cavalcante, que diz que os adultos devem falar sobre o assunto com os filhos:“Os pais precisam, de forma delicada, explicar o papel do beijo entre casais e dentro da família, sempre colocando os limites devidos. Todo amor físico é de extrema importância na criação e formação dos filhos, mas, obviamente, nada parecido com os carinhos trocados entre os adultos”, explica.
Do ponto de vista da saúde
Esse é um ponto de vista que é muitas vezes ignorado pelas pessoas, mas não deveria, porque, para a maioria dos especialistas existe um risco envolvendo o selinho. “É preciso aplicar o bom senso. Se você sofre de infecções transmissíveis através da saliva, como os catarros comuns ou o herpes labial, convém evitar dar um beijo na boca de outra pessoa, independentemente da idade. Mas, além disso, dar um beijinho afetivo na boca a uma criança não me parece absolutamente um perigo sanitário”, diz Iván Carabaño.
Até os primeiros 30 dias de vida, recomendamos cuidado porque o sistema imunológico do bebê é muito frágil. Depois disso, ele começa a ser formado e a criança vai desenvolvendo com o tempo as suas defesas. Mas há, sim, o risco de adquirir infecções derivadas da boca dos adultos”, afirma. “É absolutamente errado os pais acharem que está tudo bem beijar os filhos na boca. Por exemplo, a mãe pode sair para trabalhar, contrair o vírus influenza, chegar em casa e dar um selinho no bebê, que também vai ficar doente”, afirma ela.
“Quando falamos de aconchego, não precisamos passar por essa questão. O sentimento pode estar relacionado com outras medidas de conforto como o aleitamento materno e a participação ativa do pai nos cuidados”, completa a neonatologista. Quando Teresa concedeu essa entrevista, em 2018, ainda nem se falava em coronavírus e Covid-19, o que torna o beijo – aliás, qualquer beijo e contato – substancialmente mais perigoso para o risco de contaminação.
Não existe um “SIM” ou um “NÃO” unânimes entre profissionais de diversas áreas que estudam o universo infantil, então, dentro de todos os posicionamentos que colocamos, vale o bom senso da família.
Independentemente da decisão, é importante ressaltar que o melhor jeito de ensinar autonomia é escutar a criança com carinho e mostrar que o consentimento dela é fundamental em qualquer circunstância.
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