Para Regina, esses dados são alarmantes, pois “permitem prever que a incidência da perda de audição em decorrência de ruído daqui há algumas décadas vai ser muito mais elevada do que já foi”. Além do abuso dos fones, outra preocupação da professora são os aparelhos sonoros dos automóveis, que trazem danos não só a quem dirige, mas também para todo o entorno. Uma sugestão da pesquisadora é uma legislação para limitar a potência máxima destes aparelhos, como “leis severas que limitassem o número de decibeis que são permitidos em equipamento de sons de carro”.
Na cidade de São Paulo, o Programa de Silêncio Urbano é uma das iniciativas para combater a poluição sonora e atua majoritariamente na fiscalização de estabelecimentos confinados, como bares, boates e casas noturnas. Em relação a casas, apartamentos e condomínios, a Lei de Zoneamento do município limita nas zonas residências o limite de 50 decibéis entre as 7 e 22 horas e as zonas mistas, neste mesmo horário o limite fica entre 55 e 65 decibéis. Programas como este são o começo de maior concientização da população em relação aos problemas auditivos, que a cada dia afetam cada vez mais a todos.
Deficiência auditiva na infância
Apesar de muito frequentes, os problemas auditivos ainda são muito negligenciados no Brasil e no mundo. O hábito de fazer audiometria é muito menos frequente em comparação ao hábito dos exames de acuidade visual preventivos, porém, Regina alerta que a deficiência auditiva é tão grave quanto a visual na infância. Em um período importante de desenvolvimento físico e mental, principalmente na idade escolar, “há muitas crianças que podem ter perda de audição, que estão em processo de alfabetização e podem apresentar dificuldades justamente por não conseguirem ouvir direitos”, explica.
A insuficiência de políticas públicas dedicadas à audição faz parte do quadro e a desinformação contribuiu para que muitos casos que poderiam ser tratados sejam deixados sem acompanhamento. “É importante que os pais pensem na possibilidade de seus filhos não estarem escutando bem, principalmentem se a criança mostre alguma dificuldade na escola, pois pode haver um problema de audição subjacente que precisa ser avaliado”, afirma Regina.
Com anos de pesquisa no Laboratório de Genética Médica do IB, vinculado ao Centro de Estudos do Genoma Humano (CEGH-USP), Regina Mingroni-Netto viu na compreensão da surdez uma grande possibilidade de trabalho. Inserido no âmbito de identificar alterações moleculares em genes já conhecidos, seu estudo procura mapear novos genes responsáveis pelos casos de surdez hereditária, a fim de caracterizar um perfil das mutações ocorridas na população do país e definir seus mecanismos de herança.
Apesar do genoma já ter sido completamente sequênciado, como anunciado pelo Projeto Genoma Humano em 2001, a professora ressalva que muito ainda resta a ser feito, pois “ainda não sabe-se completamente cada trecho e sua correspondência, como também não há correspondências perfeitas entre cada condição hereditária e os genes correspondentes”. Desde 1969, o Laboratório de Genética Humana do IB oferece serviços de teste genético e aconselhamento para indivíduos e famílias afetadas por condições das mais diversas, do o autismo até a Síndrome do X Frágil.
O paciente que procura estes serviços é submetido à triagem para identificação da possível doença genética e caso contatada, é encaminhado para um diagnóstico molecular mais detalhado das alterações encontrada e é feita uma entrevista na qual é levantado seu histório clínico e geanológico. Com os dados em mãos, os pesquisadores identificam as famílias que possuem alguma herança para que seja feito um estudo tanto do DNA em si como dos mecanismos de transmissão das mutações.
Em seu trabalho, Regina procura fazer um trabalho extensivo com as famílias acompanhadas, a fim de possibilitar o mapeamento de um novo gene de surdez hereditária. Entretanto, é dificil lidar com a heterogeneidade de causas de uma condição como esta. Como explica, existem “dezenas de genes alterados que levam a surdez de herança recessiva, dezenas que levam a surdez de herança dominante, alguns que levam à surdez ligada ao cromossomo X e também várias mutações do DNA mitocondrial”, o que demonstra a importância da pesquisa. Apesar das dificuldades encontradas, o Laboratório de Genética Humana do IB conduziu estudos recentes que permitirão em breve identificar novos genes relacionados à doença na população brasileira.
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