Nós não vivemos no Real. Nossa relação com ele é mediada por uma coisa que em Psicanálise a gente chama de fantasia. O que nós chamamos de realidade é a versão do Real que nossa fantasia nos apresenta.
Precisamos da mediação da fantasia porque o Real é insuportável de ser visto a olho nu. Ele é caótico, sem sentido, indizível. Por isso, precisamos de uma fantasia que nos diga quem somos, o que esperar do outro, como devemos nos posicionar, quais são as regras do jogo da vida.
A fantasia faz parecer que a existência é compreensível e previsível. Ela nos orienta. Contudo, diferentemente do delírio psicótico (que também faz frente ao Real), falta na fantasia o elemento da certeza. No fundo, sabemos que nossas fantasias são construídas, fabricadas, artificiais, ou seja, sabemos que não refletem necessariamente o Real.
Se nos apegamos tão fortemente a elas a ponto de adoecermos para justificá-las é porque nos protegem do encontro com o Real insuportável. Há muitas formas de formular o que se busca numa análise. Uma delas é: numa análise se busca ajudar o sujeito a se descolar (e se deslocar) de sua fantasia a fim de que o Real passe a ser visto por ele como menos ameaçador.
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