Uma pessoa sem história é um livro sem letras. Quem não lê, mal ouve, mal fala , mal vê. Se ele não quer ler fazer o quê? Que pena ... os escritores precisam de leitores. Pode parecer uma paulocoelhice, mas o bom leitor é aquele que lê. A maioria das pessoas não lê. Apenas foi alfabetizada – seja pelo método fonético do Ivo viu a uva ou pela pedagogia do oprimido, na qual é o patrão explorador de Ivo quem vê, vende ou devora a uva, e Ivo fica a ver navios. O verbo “ler” vem de “legere”, que significava, originalmente, “colher, escolher”, selecionar os melhores frutos no pé, na parreira. Ivo não só viu a uva. Ao ler a palavra “uva”, Ivo a colheu.
Tenho o hábito de ler três livros por semana. Confesso que às vezes leio livro "best-seller" sucesso de venda e pergunto como pode um livro vender tanto e oferecer tão pouco? Cadê a “cultura”, que era apenas o ato de cultivar plantas (cultura de café, cultura de cana de açúcar) e adquiriu depois o sentido de cultivar o intelecto (cultura artística, cultura geral), o verbo “ler” passou a designar o que se colhe com os olhos, o que se percebe através das letras, das palavras. Ler deveria ser uma forma de aprender (trazer para junto de si, levar para a memória), não de aprisionar.
Quem escreve quer ser lido (colhido), compreendido (acolhido) e amado (de “amare”, verbo que gerou amor, amigo, mãe). Talvez porque escrever (do latim “scribere”) seja, lá na sua gênese, o mesmo que cortar, fazer uma incisão.
Ao escrever, o escritor se abre. É preciso ter olhos amorosos (de mãe, de amigo, de amante) para ler (colher) os melhores frutos dessa vinha, dessa ferida. Ler o que está fora de nós, e que o outro nos trouxe, é compreensão, aprendizado. Ler no que o outro escreveu o que já trazemos dentro é uma forma de prisão.
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