Cientistas ainda buscam comprimido ideal contra a insônia
Remédios que estão no mercado têm efeitos colaterais e não são indicados para o uso prolongado. Pesquisadores ainda testam nova substância que ajuda a regular o sono de forma mais equilibrada.
Quem não tem insônia? Você não tem? Se dorme bem é privilegiado! Às vezes vem o sono...você deita e começa o sono fragmentado. Insônia é uma cruz, pessoas que não sofrem com isso não podem imaginar o que isso significa.
A história contada da insônia de Anne-Marie começou após a morte de sua mãe. Foi um choque", conta sobre o momento da despedida. A partir de então, ela se deitava na cama e não conseguia mais fechar os olhos. Após alguns dias, procurou um médico. "Eu estava tão abalada que chorei na clínica."
Atualmente, Anne-Marie, 68 anos, vive em Lohmar, uma cidade perto de Bonn, na Alemanha. Ela já procurou muitos médicos, mas nenhum conseguiu ajudá-la.
Por fim, ela resolveu apelar para os medicamentos e só consegue pegar no sono quando toma um comprimido para dormir. "Há dez anos, eu conclui: ou você engole isso, ou morre. Dormir é tão importante quanto comer e beber", diz.
Segundo o Instituto Robert Koch, 25% dos alemães têm sintomas de insônia. Nos Estados Unidos, entre 10% e 15% da população adulta sofre de insônia crônica, apontou um estudo do Centro Nacional de Pesquisa sobre Distúrbios do Sono. Em 2003, uma pesquisa publicada pela Organização Mundial da Saúde revelou que 40% dos brasileiros apresentam sinais desse distúrbio em alguma fase da vida.
Geralmente, a insônia é causada por fatores psicológicos. "Os pacientes não conseguem se desconectar na hora de dormir e continuam pensando nas tarefas diárias", afirma o médico Hans-Günter Weess, diretor do Centro do Sono do Hospital para Psiquiatria e Neurologia de Klingenmünster. Por outro lado, algumas doenças físicas também podem causar esse distúrbio, como disfunções na tireoide.
Comprimidos ideais
Para ajudar essa parcela da população mundial que têm problemas para dormir, cientistas trabalham para encontrar soníferos que não provoquem efeitos colaterais. Há alguns anos, os barbitúricos se encaixavam nessa descrição. Porém, na década de 1950, os médicos perceberam que essas substâncias viciavam. Os barbitúricos ganharam fama internacional quando a atriz Marilyn Monroe morreu vítima de uma overdose desse medicamento.
Anos mais tarde, as benzodiazepínicos, entre eles o Valium, conquistaram o mercado. Como os barbitúricos, essas substâncias agem nos receptores cerebrais sensíveis ao neurotransmissor GABA (ácido gama-aminobutirico). Dessa maneira, elas obrigam o cérebro a adormecer. Até 20% de todas as células nervosas produzem o neurotransmissor GABA.
"Os receptores GABA atuam em todo o cérebro, também em regiões que são importantes para a percepção, coordenação dos movimentos e humor", afirma Jason Uslaner, funcionário da empresa química e farmacêutica Merck, da Pensilvânia, nos Estados Unidos.
Embora os benzodiazepínicos ainda sejam receitados, existem novas e melhores alternativas, como as chamadas drogas Z – todas as substâncias desse grupo começam com a última letra do alfabeto. Entre elas estão a zopiclona e o zolpidem. Elas também agem nos receptores GABA, mas numa subunidade e causam menos efeitos colaterais.
Substâncias naturais, como a valeriana, também podem ajudar pessoas a relaxar e adormecer. Mas elas funcionam somente para as formas mais leves de insônia.
Ritmo do sono
Todos os soníferos modificam o ritmo do sono. "Eles reprimem o REM e o sono profundo", diz Weess. O chamado movimento rápido dos olhos (REM) é a fase em que as pessoas sonham.
Mesmo os soníferos modernos causam efeitos colaterais. Eventualmente, os pacientes se sentem cansados ao acordar pela manhã, em alguns casos não podem dirigir. Quem faz uso dessas substâncias por mais de duas semanas corre o risco de não conseguir mais dormir sem esses comprimidos. Algumas vezes, após um período de uso, esses remédios não fazem mais efeito.
Ainda não existe o comprimido ideal. "Soníferos devem ser usados por pouco tempo", diz Weess, reforçando que eles são uma solução de emergência e não curam a doença, apenas aliviam o problema.
No futuro, as chamadas antagonistas dos receptores da orexina (DORA, na sigla em inglês), podem ajudar quem sofre desse distúrbio. Pesquisadores descobriram que as orexinas são neurotransmissores com um papel importante no controle do ritmo corporal diário e noturno.
"Durante o dia a quantidade de orexina é alta para manter as pessoas acordadas. À noite, essa quantidade diminui para que as pessoas adormeçam", explica Uslaner. As antagonistas bloqueiam esses receptores e, assim, a ação dos neurotransmissores. "Ao contrário do GABA, as orexinas são encontradas em apenas algumas regiões do cérebro", diz Uslaner.
Os pesquisadores esperam que a futura droga não tenha o mesmo efeito colateral dos atuais soníferos vendidos no mercado. A substância está sendo testada em laboratório. Cientistas ainda não sabem prever quando a droga poderá ser receitada para pacientes.
- Data 16.09.2013
- Autoria Brigitte Osterath (cn)
- Edição Nádia Pontes
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