De Francisco Russo
Quando foi lançado, Kick Ass - Quebrando Tudo conquistou o público por apostar em um velho sonho nerd: e se pessoas normais, como eu e você, resolvessem se fantasiar e sair às ruas para enfrentar o crime, assim como os super-heróis dos quadrinhos? A ilusão do combate logo foi derrubada pela dura realidade, onde lutas são bastante dolorosas e por vezes cobram um preço alto. Fiel à esta proposta, o longa original é também bastante violento, por mais que às vezes seja exagerado. Kick-Ass 2 mantém-se fiel a esta característica, só que vai bem mais fundo ao apresentar cenas que beiram o sadismo.
Kick-Ass 2 - FotoTudo começa com um tremendo revival do filme original, com direito a aparições dos falecidos personagens de Nicolas Cage e Mark Strong através de porta-retratos cuidadosamente posicionados. Por mais que ambos não estejam fisicamente em cena, o que representam acompanha o trio principal. Especialmente Mindy Macready, a Hit-Girl, que vive um conflito entre a vontade de seguir a promessa feita ao pai para ser sempre uma super-heroína e a pressão de seu tutor em levar uma vida normal, como toda garota de sua idade. Este contraste é responsável por algumas das sequências mais divertidas desta continuação, servindo como uma crítica ácida sobre o universo das meninas mais populares da escola, uma realidade tão comum nos Estados Unidos. Por outro lado, é também responsável por um problema deste novo filme: há pouca Hit-Girl em cena, já que é necessário abrir espaço para que Mindy viva seu conflito existencial.
Outro problema enfrentado por Kick-Ass 2 é a nítida diferença de qualidade entre as histórias envolvendo os protagonistas. Além do indisfarçável contraste de talento entre Chloë Grace Moretz e Aaron Taylor-Johnson, a trama estrelada por Kick-Ass é bem sem graça. Por mais que seja até interessante vê-lo em parceria com outros nerds que saíram às ruas para combater o crime, cada um com sua justificativa, o “supergrupo” peca pela ausência de boas piadas e por uma insistência no ingênuo triângulo de amigos formado por Kick-Ass, Batalheiro e Ass Kicker. Além disto, há um equívoco na utilização de Jim Carrey. A capacidade do comediante em criar personagens histriônicos é deixada de lado para a construção de um papel mais simbólico, como o adulto responsável em pôr alguma ordem naquele universo majoritariamente formado por jovens. No fim das contas, Carrey é mais aproveitado como um nome famoso em meio aos garotos do que propriamente na criação de um personagem marcante.
Apesar dos problemas, Kick-Ass 2 diverte. Nas (poucas) lutas com Hit-Girl, de longe as melhores cenas de ação do filme; nas rápidas piadas envolvendo a cultura pop; nas brincadeiras com o universo adolescente feminino, nas diversas referências à estrutura dos quadrinhos... Entretanto, é importante também avisar que o filme possui uma virada bastante pesada em seu terço final, quando o vilão Motherfucker (Christopher Mintz-Plasse) ganha espaço. É neste trecho que o nível de violência sobe bastante e ganha contornos sádicos, especialmente através da vilã Mother Russia (Olga Kurkulina). Seu ataque a um bando de carros da polícia tem momentos que até lembram filmes de terror sanguinolentos, pela crueldade do que acontece. Por este cenário, é bastante compreensível que Kick-Ass 2 tenha sido um tremendo fiasco comercial nos Estados Unidos, já que em certos momentos assume ares de carnificina.
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