O tempo passou, muitos valores mudaram e a tecnologia proporciona mais agilidade e facilidades para a vida do homem moderno. As relações familiares também evoluíram. Hoje pais e filhos têm relacionamentos mais abertos e a educação das crianças é bem menos rígida. E até os avós não são mais os mesmos. Aquele estereótipo da vovó dócil, meiga, de cabelos brancos sentada na cadeira de balanço tricotando já não corresponde à realidade. Com o aumento da expectativa de vida, eles estão com muito mais saúde e disposição para curtir os netos, viajar e aproveitar a vida.
Os avós de hoje pertencem a uma geração que passou por mudanças importantes na estrutura familiar. São mais jovens, modernos, mais saudáveis e mais independentes do que antigamente. Mas continuam sendo peças fundamentais para manter de pé a boa e velha família. Tudo bem que ainda hoje cabe aos avós mimar os netos, mesmo quando são eles os responsáveis pela educação dos pequenos. Isso porque, embora existam inúmeros berçários e escolas disponíveis em quaisquer lugares, ainda é grande o número de pais que deixam os filhos com os avós e vão trabalhar.
Mas até que ponto esse relacionamento é vantajoso para a criança, os pais e os avós? Diz um ditado chinês que "quando o passado e o presente se unem, é possível caminhar bem para o futuro". Segundo o pediatra especializado em comportamento infantil Leonardo Posternak, coautor da obra Livro dos Avós – Na asa da avó é sempre domingo?, a relação entre avós e netos é muito importante porque são eles quem têm a história da família na cabeça, exercem mais a paciência e são mais permissivos. Mas o médico alerta: os avós podem dar sua opinião referente à conduta de criação dos pais, porém, não podem desautorizá-los na frente dos filhos. "Eles precisam reconhecer nesse filho a capacidade de criar as suas próprias crianças, mesmo que tropecem nas suas condutas, pois os erros levam ao aprendizado", enfatiza.
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Até os 9 anos de idade, Leandro Daher, hoje com 27, viveu com os familiares na mesma casa. Como os pais trabalhavam o dia todo, os avós foram os responsáveis pela sua educação. "Tinha uma afinidade enorme com eles. Meu avô me dava bronca, era mais sério, mas a minha avó deixava eu fazer quase tudo", revela. Daher lembra que durante o dia brincava no quintal da família, abria potes de leite em pó e achocolatado, se lambuzava com a mistura dos ingredientes e fazia muita bagunça típica de criança. "Minha avó achava tudo natural, da idade", comenta. À noite, o ambiente era mais repressivo. Os pais queriam mesmo educar. "Quando minha mãe chegava, eu gostava de ficar na barra da saia da minha avó", brinca. Os pais de Leandro chegavam cansados do trabalho, enquanto os avós tinham a paciência característica de quem é mais velho.
Por causa da correria da vida moderna, os pais muitas vezes não se dão conta de que é preciso que os filhos contemplem as pequenas coisas da vida, como brincar, perceber o vento, a água da chuva. E isso os avós fazem com seus netos. Essa é a opinião da psicóloga, psicopedagoga e educadora Liana Bogomoletz, da clínica Winnicott, em Alphaville. "É tanta a vontade de que essa criança dê certo na vida que essas pequenas coisas passam despercebidas pelos pais."
O grande segredo para essa relação ter harmonia é que haja respeito e que os papéis de cada um estejam bem definidos. Vale citar, mais uma vez, a sabedoria chinesa que diz o seguinte sobre a relação entre pais, avós e crianças: "Os avós têm de mostrar para os netos que a montanha existe, mas cabe aos pais pegar na mão dos filhos e ir até o cume da montanha".
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