quinta-feira, 7 de novembro de 2013

MÉDICO DO CEARÁ MOSTRA AS DIFICULDADES NO HOSPITAL PÚBLICO EM QUE TRABALHA.


"O Ministro da Saúde diz que vai aparelhar postos e hospitais. Faz uma contratação a toque de caixa de profissionais sem critério de avaliação, mas não equipa devidamente as unidades já em funcionamento" (Foto: Clayton)
“O Ministro da Saúde diz que vai aparelhar postos e hospitais. Faz uma contratação a toque de caixa de profissionais sem critério de avaliação, mas não equipa devidamente as unidades já em funcionamento” (Foto: Clayton)
Post do leitor blog George Araujo Magalhães, médico urologista e cirurgião geral
COMO VAI A SAÚDE DO TEU PAÍS?
Post-do-Leitor1
Sou médico urologista e cirurgião geral. Estou de plantão em Canindé, cidade que dista 120 quilômetros de Fortaleza, cidade-sede de uma das maiores celebrações da fé católica no Ceará. O hospital local serve de polo para mais cinco cidades vizinhas.

A situação é caótica. Não diferente do resto do Brasil.
Aqui há o problema da violência e da criminalidade devido à epidemia do crack, além da débil fiscalização de trânsito, da qual decorre grande incidência de quedas de motocicletas, de pacientes alcoolizados, não-habilitados ou sem capacete.
Venho hoje por meio deste texto esclarecer, a quem gentilmente lê estas linhas, descrever a situação da saúde desta unidade, também nada diferente do resto do país.
Após um atendimento, tenho feito o asseio das mãos com meu sabonete pessoal. Frescura? Não. O hospital não oferece sabonete no setor.
Esta manhã, fui chamado às pressas para ver um paciente de 94 anos internado há alguns dias que apresentou uma parada cardíaca. Feitos os procedimentos devidos, a despeito da má condição clínica do paciente, a morte iminente foi evitada.
Num caso como esse, para os leigos explico que o paciente precisa ficar respirando com ajuda de aparelhos, através de um tubo na traqueia. OK, o tubo foi colocado, as medicações foram administradas, mas…o aparelho?
Pois é, a despeito de o hospital cobrir o atendimento de seis cidades, cerca de 150 mil habitantes, só há um aparelho para ventilação mecânica disponível, que já está ocupado com uma romeira que veio para os festejos de São Francisco. Outro está com uma peça faltando e impossibilitado de funcionar.
Resultado: a ventilação está sendo feita manualmente, com revezamento dos profissionais para que a oxigenação do guerreiro (esse, sim, luta pela vida!) seja mantida. Ou seja, a equipe de plantão já desfalcada está se ocupando com uma tarefa que deveria ser assumida por uma máquina, deixando de atender pacientes.
Em uma noite recente, a mãe de um funcionário do hospital teve um problema semelhante e está na mesma situação, sendo ventilada manualmente.
Aqui não dispomos de unidade de terapia intensiva (UTI). Precisaríamos encaminhar para um hospital de melhor estrutura, no caso disponível apenas em Fortaleza. Acontece que esses hospitais já estão sobrecarregados e há uma fila de mais de quarenta pacientes para admissão nas UTIs, com critérios de prioridade. Um nonagenário é preterido ante um paciente jovem, na maioria dos casos.
Poderia dizer todos os problemas do hospital, mas este foi emblemático e deixa claro como os profissionais da saúde estão trabalhando. Sem contar o risco de vida por escassez de policiais no entorno do hospital e, mesmo, na cidade.
Isso que escrevo não aparece na propaganda. Isso o deputado da Medida Provisória do Mais Médicos omite. Finge que não acontece.
O Ministro da Saúde diz que vai aparelhar postos e hospitais. Faz uma contratação a toque de caixa de profissionais sem critério de avaliação, mas não equipa devidamente as unidades já em funcionamento.
Enquanto as preocupações se voltam às eleições e a convênios obscuros com países ditatoriais, trabalhadores fazem o serviço de máquinas.

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