Iniciativa de um ex-porteiro da zona leste da cidade foi a vencedora do Prêmio Londrina de Cidadania
Márcio Eduardo Silva abriu a própria residência para abrigar as pessoas que queriam abandonar as drogas
Fernanda Cristina Lujete confecciona tapetes: "Aprendi a atividade aqui"
Londrina - Você colocaria um morador de rua para residir em sua casa? E se esse sujeito tiver um histórico de consumo de drogas ilegais? Ou mesmo se ele fosse um ex-traficante ou ex-detento? A grande probabilidade é que a maioria dos leitores tenha respondido não para todas essas perguntas. Mas uma pessoa decidiu fazer tudo isso para ajudar aqueles que estavam precisando de abrigo, conforto e suporte fraterno. O ex-porteiro Márcio Eduardo Silva, responsável pelo projeto Casa Verde, que promove a reinserção social de usuários de drogas e moradores em situação de rua, é o vencedor do Prêmio Londrina de Cidadania. O concurso foi organizado pelo Observatório de Gestão Pública e o resultado foi divulgado na semana passada.
Silva, morador do Jardim Pindorama (zona leste), começou a trabalhar com dependentes químicos há cerca de sete anos, quando ainda era porteiro. Ele contou que ficava comovido ao passar todos os dias pelo Marco Zero e ver pessoas que estavam morando em meio à mata, consumindo drogas e tendo uma vida miserável. No início distribuía café e pão com manteiga.
Há três anos resolveu abrigar algumas delas em sua casa e a única condição era abandonar as drogas. Não quis impôr regras rígidas que são comuns em muitos dos centros de recuperação, como estabelecer horário para assistir TV. O objetivo foi deixar o ambiente o mais familiar possível.
Além de dar abrigo e alimentação, Silva orienta as pessoas e ajuda nas entrevistas para emprego. Quando consegue voluntários, oferece algumas oficinas, como de artesanato.
Na época, ele comentou que se conseguisse uma verba mensal, pararia de trabalhar para ajudar essas pessoas. E quando um amigo conseguiu R$ 600 por mês, ele cumpriu a promessa e passou a dedicar a esse público. Conseguiu também a doação de quatro cestas básicas por mês e faz "bicos" como motoboy para completar o orçamento. "Os outros moradores também passam a ajudar com as despesas da casa assim que conseguem um emprego", afirmou.
Emprego
A casa é pequena, tem apenas um banheiro, uma cozinha, uma sala e três quartos e já chegou a abrigar 18 pessoas. Atualmente, está com 11 pessoas.
Uma das mais antigas moradoras já viveu na mata do Marco Zero. Fernanda Cristina Lujete, de 29 anos, conta que foi usuária de drogas por 12 anos e que isso a fez perder a guarda de suas filhas. Disposta a mudar de vida, fez tratamento em uma clínica de recuperação e, quando saiu, procurou a Casa Verde para evitar ter uma recaída. "Foi uma mudança muito boa. Hoje não quero voltar àquela vida", afirmou.
Disse que retomou o contato com a mãe, que tem a guarda das crianças, e com as filhas. "Eu posso visitá-las nos fins de semana", relatou. A fonte de renda para seu sustento provém do trabalho como artesã, confeccionando tapetes. "Aprendi essa atividade aqui na Casa Verde", declarou.
Outro morador da casa, Alisson Silva dos Santos, de 22, revelou que entrou no mundo das drogas por intermédio de seu pai, que é dependente químico. "Com 13 anos já fumava cigarro e depois meu pai passou a me levar quando ia se encontrar com traficantes", relembrou. Já foi detido em um centro de detenção de menores e permaneceu um ano e sete meses em uma clínica de recuperação para dependentes químicos e, assim que saiu, procurou a Casa Verde para não voltar às drogas. "Já estou há cinco meses aqui", destacou o rapaz, que conseguiu um emprego como repositor de mercadorias.
Silva conta que vencer o concurso do Observatório foi uma bênção. "Foi importante porque vai ser o pontapé inicial para fazer uma reforma na casa", disse, explicando que quer ampliar os quartos, construir um refeitório e mais um banheiro. "É um reconhecimento importante do trabalho", resumiu. O prêmio do concurso é de R$ 5 mil.
Vítor Ogawa
Reportagem Local
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