Padre Paulo - Mato Grosso
Demoraram
alguns séculos para que a Igreja Católica chegasse à forma final da Bíblia, com os 72 livros como temos hoje. Em
vários Concílios, ao longo da história, a Igreja, assistida pelo Espírito Santo
(cf. Jo 16,12-13) estudou e definiu o Índice (cânon) da Bíblia; uma vez que
nenhum de seus livros traz o seu Índice. Foi a Igreja Católica quem berçou a
Bíblia. Garante-nos o Catecismoda Igreja e o Concílio Vaticano II
que: “Foi a Tradição apostólica que fez a Igreja discernir que escritos deviam
ser enumerados na lista dos Livros Sagrados” (Dei Verbum 8; CIC,120). Portanto,
sem a Tradição da Igreja não teríamos a Bíblia. Santo Agostinho dizia: “Eu não
acreditaria no Evangelho, se a isso não me levasse a autoridade da Igreja
Católica” (CIC,119).
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ler a Bíblia :: Como fazer o
diário espiritual :: Padre Jonas
ensina: método de “ruminação” da Palavra de Deus
Por que a Bíblia católica é diferente da protestante? Esta tem apenas 66
livros porque Lutero e, principalmente os seus seguidores, rejeitaram os livros
de Tobias, Judite, Sabedoria, Baruc, Eclesiástico (ou Sirácida), 1 e 2
Macabeus, além de Ester 10,4-16; Daniel 3,24-20; 13-14. A razão disso vem de
longe. No ano 100 da era cristã, os rabinos judeus se reuniram no Sínodo de
Jâmnia (ou Jabnes), no sul da Palestina, a fim de definir a Bíblia Judaica.
Isto porque nesta época começavam a surgir o Novo Testamento com os Evangelhos
e as cartas dos Apóstolos, que os judeus não aceitaram. Nesse Sínodo, os
rabinos definiram como critérios para aceitar que um livro fizesse parte da
Bíblia, o seguinte: (1) Deveria ter sido escrito na Terra Santa; (2) Escrito somente em hebraico, nem aramaico e nem grego; (3) Escrito
antes de Esdras (455-428 a.C.); (4) Sem contradição com a Torá ou lei de
Moisés. Esses critérios eram puramente nacionalistas, mais do que religiosos,
fruto do retorno do exílio da Babilônia em 537aC. Por esses critérios não foram
aceitos na Bíblia judaica da Palestina os livros que hoje não constam na Bíblia
protestante, citados anteriomente. Mas a Igreja católica, desde os Apóstolos,
usou a Bíblia completa. Em Alexandria no Egito, cerca de 200 anos antes de
Cristo, já havia uma influente colônia de judeus, vivendo em terra estrangeira
e falando o grego. O rei do Egito, Ptolomeu, queria ter todos os livros
conhecidos na famosa biblioteca de Alexandria; então mandou buscar 70 sábios judeus,
rabinos, para traduzirem os Livros Sagrados hebraicos para o grego, entre os
anos 250 e 100 a.C, antes do Sínodo de Jâmnia (100 d.C). Surgiu, assim, a
versão grega chamada Alexandrina ou dos Setenta, que a Igreja Católica sempre
seguiu. Essa versão dos Setenta, incluiu os livros que os judeus de Jâmnia, por
critérios nacionalistas, rejeitaram. Havia, dessa forma, no início do
Cristianismo, duas Bíblias judaicas: a da Palestina (restrita) e a Alexandrina
(completa – Versão dos LXX). Os Apóstolos e Evangelistas
optaram pela Bíblia completa dos Setenta (Alexandrina), considerando inspirados (canônicos) os livros rejeitados em Jâmnia. Ao
escreverem o Novo Testamento, utilizaram o Antigo Testamento, na forma da
tradução grega de Alexandria, mesmo quando esta era diferente do texto
hebraico. O texto grego “dos Setenta” tornou-se comum entre os cristãos; e
portanto, o cânon completo, incluindo os sete livros e os fragmentos de Ester e
Daniel, passaram para o uso dos cristãos. Das 350 citações do Antigo Testamento
que há no Novo, 300 são tiradas da Versão dos Setenta, o que mostra o uso da
Bíblia completa pelos Apóstolos. Verificamos também que nos livros do Novo
Testamento há citações dos livros que os judeus nacionalistas da Palestina
rejeitaram. Por exemplo: Rom 1,12-32 se refere a Sb 13,1-9; Rom 13,1 a Sb 6,3;
Mt 27,43 a Sb 2, 13.18; Tg 1,19 a Eclo 5,11; Mt 11,29s a Eclo 51,23-30; Hb
11,34 a 2 Mac 6,18; 7,42; Ap 8,2 a Tb 12,15. Nos séculos II a IV, houve dúvidas
na Igreja sobre os sete livros por causa da dificuldade do diálogo com os
judeus. Mas a Igreja, ficou com a Bíblia completa da Versão dos Setenta,
incluindo os sete livros. Após a Reforma Protestante, Lutero e seus seguidores
rejeitaram os sete livros já citados. É importante saber também que muitos outros
livros, que todos os cristãos têm como canônicos, não são citados nem mesmo
implicitamente no Novo Testamento. Por exemplo: Eclesiastes, Ester, Cântico dos
Cânticos, Esdras, Neemias, Abdias, Naum, Rute. Outro fato importantíssimo é que
nos mais antigos escritos dos santos Padres da Igreja (patrística) os livros
rejeitados pelos protestantes (deutero-canônicos) são citados como Sagrada
Escritura. Assim, São Clemente de Roma, o quarto Papa da Igreja, no ano de 95
escreveu a Carta aos Coríntios, citando Judite, Sabedoria, fragmentos de
Daniel, Tobias e Eclesiástico; livros rejeitados pelos protestantes. Ora, será
que o Papa S. Clemente se enganou, e com ele a Igreja? É claro que não. Da
mesma forma, o conhecido Pastor de Hermas, no ano 140, faz amplo uso de
Eclesiástico, e de Macabeus II; Santo Hipólito (†234), comenta o Livro de
Daniel com os fragmentos deuterocanônicos rejeitados pelos protestantes, e cita
como Sagrada Escritura Sabedoria, Baruc, Tobias, 1 e 2 Macabeus. Fica assim,
muito claro, que a Sagrada Tradição da Igreja e o Sagrado Magistério sempre
confirmaram os livros deuterocanônicos como inspirados pelo Espírito Santo.
Vários Concílios confirmaram isto: os Concílios regionais de Hipona (ano 393);
Cartago II (397), Cartago IV (419), Trulos (692). Principalmente os Concílios
ecumênicos de Florença (1442), Trento (1546) e Vaticano I (1870) confirmaram a
escolha. No século XVI, Martinho Lutero
(1483-1546) para contestar a Igreja, e para facilitar a defesa das suas teses,
adotou o cânon da Palestina e deixou de lado os sete livros conhecidos, com os
fragmentos de Esdras e Daniel.
Lutero, quando estava preso em Wittenberg, ao traduzir a Bíblia do latim para o
alemão, traduziu também os sete livros (deuterocanônicos) na sua edição de
1534, e as Sociedades Biblícas protestantes, até o século XIX incluíam os sete
livros nas edições da Bíblia. Neste fato fundamental para a vida da Igreja (a
Bíblia completa) vemos a importância da Tradição da Igreja, que nos legou a
Bíblia como a temos hoje. Disse o último Concílio: “Pela Tradição torna-se
conhecido à Igreja o Cânon completo dos livros sagrados e as próprias Sagradas
Escrituras são nelas cada vez mais profundamente compreendidas e se fazem sem
cessar, atuantes.” (DV,8). Se negarmos o valor indispensável da Igreja Católica
e de sua Sagrada Tradição, negaremos a autenticidade da própria Bíblia. Note
que os seguidores de Lutero não acrescentaram nenhum livro na Bíblia, o que
mostra que aceitaram o discernimento da Igreja Católica desde o primeiro século
ao definir o Índice da Bíblia. É interessante notar que o Papa São Dâmaso
(366-384), no século IV, pediu a S.Jerônimo que fizesse uma revisão das muitas
traduções latinas que havia da Bíblia, o que gerava certas confusões entre os
cristãos. São Jerônimo revisou o texto grego do Novo Testamento e traduziu do
hebraico o Antigo Testamento, dando origem ao texto latino chamado de Vulgata,
usado até hoje.
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