A equipe custou a empolgar, mas o camisa 10 garantiu a vitória por 4 a 0 com uma grande exibição – com direito a caneta, chapéu, assistência e gol de falta
Neymar dá bicicleta no amistoso contra o Panamá em Goiânia - Ivan Pacheco/Veja.com
Depois de um início decepcionante, a seleção mudou de cara
graças à grande esperança brasileira na Copa: Neymar fez grande jogada,
sofreu a falta e cobrou com perfeição, abrindo o placar e iniciando a
goleada
Desde a eliminação do Brasil da última Copa do Mundo, em 2010, a
aposta mais frequente sobre as chances da seleção na edição de 2014
resume-se ao desempenho esperado de Neymar, o único fora de série da
atual geração. Nesses quatro anos, falou-se muito que a equipe só seria
campeã caso o jovem craque confirmasse seu fantástico potencial. Às
vésperas da estreia no Mundial, fica cada vez mais claro que esse
diagnóstico era preciso. No primeiro amistoso da reta final de
preparativos para a Copa, o Brasil goleou o Panamá nesta terça-feira, no
Estádio Serra Dourada, em Goiânia, por 4 a 0, com uma atuação memorável
de seu camisa 10. Neymar fez de tudo: marcou um golaço, deu caneta e
chapéu (três), anotou uma assistência e incendiou o público com seus
dribles e arrancadas. A pouco mais de uma semana do início da Copa, a
equipe de Luiz Felipe Scolari revelou algumas falhas, mas mostrou que
contará com um Neymar endiabrado e inspiradíssimo. Agora, a seleção
retorna ao Rio de Janeiro (em voo fretado marcado para a noite desta
terça) e ganha folga na manhã de quarta na Granja Comary. O próximo
amistoso, último ensaio aberto antes da estreia na Copa, será na tarde
de sexta, no Estádio do Morumbi, em São Paulo, contra a Sérvia, trazida
ao país como "dublê" da Croácia, a adversária na abertura do torneio.
Time enferrujado - O começo da partida foi pouco
animador para o Brasil: errando bastante e aparentando ainda não estar
em sua condição física ideal, a seleção custou a engrenar. Se na véspera
do jogo Felipão pediu um time com a mesma atitude e força de 2013
– quando a equipe reconstruiu seu prestígio e recuperou a confiança do
torcedor – o jeitão meio enferrujado da seleção nesta terça chegou a
causar alguma apreensão no Serra Dourada. A seleção parecia ansiosa. Aos
10 minutos, David Luiz, que usou a braçadeira de capitão na ausência de
Thiago Silva, levou cartão amarelo por uma entrada dura quase na linha
que divide o gramado. Outros atletas da seleção também deixavam
transparecer certa frustração pela falta de fluidez do jogo do Brasil.
Surpreendentemente, o Panamá trabalhava a bola por mais tempo e rondava a
área brasileira com mais frequência – e o time da casa só conseguia
avançar no contra-ataque, ao roubar a bola com seus meias e atacantes. O
time de Felipão também perdia muitas bolas fáceis, errando o passe ou
falhando em lances corriqueiros. E o Brasil completava a primeira metade
da etapa inicial mostrando um futebol sem inspiração nem brilho.
O jogo mudou graças à grande esperança brasileira na Copa. Aos 24,
Neymar, em jogada individual, arrancou em direção ao gol e sofreu falta
na entrada da área. Ele mesmo cobrou, batendo com incrível categoria, no
ângulo, e abrindo o placar. O camisa 10 colocou fogo no jogo e na
torcida ao fazer uma linda jogada pelo lado esquerdo, com direito a
caneta no zagueiro e cruzamento milimétrico para Fred, que errou a
cabeçada. Aos 30, Hulk, que fazia uma partida ruim até aquele momento,
também criou uma boa oportunidade, disparando pela direita, mas o
cruzamento foi interceptado pela defesa. O Brasil enfim crescia no jogo,
espremendo o Panamá em seu campo e fazendo lembrar um pouco mais o time
contundente e vibrante da campanha vitoriosa na Copa das Confederações.
Neymar, o melhor em campo, voltou a empolgar com um belo chapéu na
intermediária. Aos 39, o Brasil ampliou com Daniel Alves, que aproveitou
uma sobra, ajeitou e bateu forte e cruzado. A seleção encerrou a etapa
inicial recolocando o jogo nas circunstâncias esperadas por todos, com
domínio das ações e ditando o ritmo da partida.
Neymar decisivo - Cumprindo o que já havia prometido
na segunda-feira, Felipão logo começou a rodar o elenco: na volta para o
segundo tempo, trocou os laterais (Maicon no lugar de Daniel Alves e
Mawell na vaga de Marcelo) e deu nova chance a Hernanes no lugar de
Ramires (que tinha conquistado a chance de substituir Paulinho no treino
da véspera). Um dos três poupados pela comissão técnica (junto de
Thiago Silva e Fernandinho), o volante do Tottenham fez falta, deixando
claro que trata-se de uma peça essencial para a equipe. A qualidade de
Neymar, entretanto, compensava qualquer ausência: com apenas um minuto
de jogo na etapa final, ele recebeu de costas para o gol, deu um passe
de calcanhar genial e deixou Hulk livre, cara a cara com o goleiro, para
apenas completar para as redes. Aos 3 minutos, o camisa 10 foi acionado
por Maicon na ponta direita e fez um cruzamento açucarado para Fred
escorar de cabeça. O artilheiro, porém, mandou a bola pelo alto. Apesar
do gol marcado e da assistência para Hulk, o melhor lance de Neymar
talvez tenha sido uma chance perdida: aos 6 minutos, ele surpreendeu a
todos ao disparar pela faixa central, roubar uma bola cruzada entre os
defensores e invadir a área para finalizar. O goleiro McFarlane espalmou
para fora.
Aos 10 minutos, uma rara chance do Panamá, num vacilo alarmante do
goleiro Júlio César – o camisa 12, que reconheceu estar chegando para a
Copa pressionado, quase comete uma falha grotesca numa bola fácil pelo
alto. Depois de escorregar, ele se recuperou a tempo de defender uma
cabeçada. Aos 15, outra substituição já prevista: Fred, que não fez bom
jogo, deu lugar a Jô. Willian, que tem sido muito elogiado por Felipão
nos treinos, substituiu um apagado Oscar (o camisa 11 ainda se recupera
de problemas físicos). Henrique também foi testado, ocupando a vaga de
David Luiz. Na prática, no entanto, pouco mudou: ainda era Neymar quem
dava as cartas. Aos 27 minutos, ele dominou pelo meio, deu um toque
sutil e acionou Maxwell pelo lado esquerdo. Ele cruzou para Willian
escorar com facilidade. Com a fatura ganha e a seleção reduzindo o ritmo
(com exceção de atletas como Willian e Jô, que sabem que precisam
aproveitar todas as oportunidades), a torcida começou a deixar o estádio
antes mesmo dos 40 minutos. O show de Neymar, contudo, não tinha
acabado: nos instantes finais do jogo, ele finalizou mais duas vezes
antes de dar outro lindo passe para Jô quase marcar. Não restam mais
dúvidas: o Brasil tem, definitivamente, um candidato de primeira a astro
maior da Copa.
Técnico Luiz Felipe Scolari durante coletiva de imprensa, em Goiânia - Ivan Pacheco/Veja.com
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