Meu sobrinho ANTONIO VALERIANO ANTUNES LOPES é servidor público em Londrina, ocupou o Espaço Aberto da Folha de Londrina ( 02/06/2014) , refletindo a realidade em que vivemos:
"É impressionante o número de
pessoas que enriqueceu e enriquece com a política. Ilhas, mansões,
iates, prédios, fazendas, empresas, jatinhos, tudo comprado com dinheiro
público "limpinho" – devidamente lavado. Dinheiro que frequenta cuecas,
calcinhas e virgens ilhas, pertencente às pessoas que comemoram festas
juninas o ano todo, formando quadrilhas e bandos.
Nunca antes neste país, a lavanderia trabalhou tanto. Lava-se de tudo, propina, estelionato, tráfico, sonegação e o que precisar. Jorra petróleo e lavar é preciso, pois o dinheiro é manchado de sangue e de mortes, numa saúde caótica que se assemelha a um linchamento - ambos têm requintes de barbárie; numa segurança medonha, de estradas esburacadas – quando existem – de um ensino analfabeto, de pedágios aviltantes e de tributos escorchantes.
O dinheiro desviado (e lavado) está loteando o país, onde se tem "meia dúzia" de donos. Coronéis, empreiteiras, metalúrgicos, políticos, corruptos, etc.
Agora, na Copa e, em meio à indignação que tomou conta do Brasil, alguns se levantam e dizem que o dinheiro gasto no evento é irrelevante se comparado ao PIB ou a algum orçamento público. De fato, é pouco até quando comparado aos desvios perpetrados anualmente (estima-se que R$ 200 bilhões/ano saem dos cofres da viúva para os bolsos e contas em paraísos fiscais). Para a Copa - dinheiro de troco - como se diz.
De certa forma, isso reflete que esta é a Copa do ufanismo, da soberba, da petulância, da extrema necessidade, que governantes e poderosos têm de ser reverenciados. Copa que garantirá lucros assombrosos a uma minoria e o circo à maioria.
Não se discute a Copa ou o dinheiro para realizá-la (se bem empregado fosse e não houvesse tantos desvios), mas o que está em jogo. A pelada dos roubos, dos desvios, das isenções padrão Fifa, a incoerência de realizar uma festa num país sem saúde, sem saneamento, sem educação, em meio à barbárie, comandado por gente que não sabe o que é bem comum, compaixão e amor (este, só pelo dinheiro).
Poderemos ser hexa, no futebol, por que em tudo que é necessário ao bem-estar do povo somos um dos últimos colocados? É bom lembrar ainda que aqui vivem soltas pessoas com prisão decretada no mundo todo por saquear o erário; com mais de uma centena de processos que, pegas com a mão na botija, mais uma vez, recebem ordem de prisão em um dia e noutro o alvará de soltura, numa brincadeira de prende e solta.
Gente influente que ri da Justiça, se lixa para o povo, não devolve o que subtraiu, esporadicamente é presa e cujo único castigo é repartir o produto do roubo com os craques em contornar a verdade usando subterfúgios de um sistema legal falido e viciado.
A economia dá sinais de exaustão, os números são pífios. Então, nos colocamos a maquiá-los, servindo de chacota para o mundo.
Governantes pagam para plantar falsas notícias, atacar quem se opõe e produzir pesquisas encomendadas. Políticos perdulários, omissos, lenientes, pródigos em alianças espúrias, cuja virtude é a compra do silêncio e de apoio.
Somos, sem dúvida, um país de pobres, doentes, analfabetos, subempregados, de uma minoria rica, escolarizada e alinhada com a perda total do seguro.
Nossa soberania foi entregue à Fifa que, do seu pedestal, promove o maior evento comercial do planeta que há muito deixou de ser um evento esportivo. O padrão Fifa passa, por exemplo, em registrar como marca a palavra "pagode", ato que sugere sua esperteza. Padrão Fifa que lembra atos semelhantes aos empregados pelo nazismo, quando o governo brasileiro enxota famílias do entorno dos estádios (as casas, marcadas num dia, são derrubadas no outro). Onde estarão as famílias? A dignidade, cidadania? O país mais justo e mais fraterno? Futebol é paixão (e muito dinheiro), vidas humanas são o quê? Educação, acaso é futebol? Saúde é opcional? Segurança é guerra? Pois é, no país do futebol, das mulheres, do carnaval e do samba, tá tudo dominado. "É campeão", simples assim!"
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