quarta-feira, 20 de agosto de 2014

ATENÇÃO, CUIDADO : O APLICATIVO SECRET FAZ AS PRIMEIRAS VÍTIMAS EM LONDRINA.

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Reduto de difamação na web, Secret faz vítimas em Londrina

Apesar de não ter recebido denúncias formais, Polícia Civil afirma que adolescentes são o principal alvo do aplicativo. Diante da situação, escolas discutem e orientam sobre uso do APP com alunos

19/08/2014 | 15:52 | atualizado em 19/08/2014 às 17:50Tatiane Salvatico
Disponível no Brasil desde maio deste ano, o aplicativo Secret começa a fazer as primeiras vítimas em Londrina. De acordo com os usuários ouvidos pelo JL, as difamações ganharam força em agosto, especialmente entre adolescentes da cidade. Até a tarde desta terça-feira (12), a Polícia Civil não havia registrado denúncias formais que envolvam o aplicativo na cidade. “Mas alguns colégios particulares já nos procuraram para receber orientações e repassar aos alunos”, conta o investigador-chefe da 10ª Subdivisão de Polícia Civil, Márcio Ilkiu.
Diante da popularidade do app, algumas escolas e professores já se adiantaram e levaram a discussão sobre o uso do aplicativo para a sala de aula.O professor Nilson Castilho, do Colégio Marista de Londrina, conta que discute em meio à disciplina de Língua Portuguesa a tecnologia disponível do dia a dia dos alunos.
O aplicativo
O app Secret foi lançado em janeiro por David Byttow e Chrys Bader-Wechseler, ex-funcionários do Google, mas ganhou notoriedade por aqui neste mês, depois que uma fan page no Facebook, chamada “Vou te contar um secret”, começou a publicar alguns posts. Para baixá-lo, basta fazer o download na Apple Store e na Google Play Store. Na semana entre 4 e 10 de agosto, o aplicativo estava na lista dos mais baixados e figurou nos trendigs topics do Twitter.
(LUCAS GABRIEL MARINS, ESPECIAL PARA A GAZETA DO POVO)
Contra a lei
Segundo o advogado Alan Moreira Lopes, do escritório A. Augusto Grellert, o app também fere o Marco Civil da Internet, que determina que todos os serviços on-line devem se submeter à legislação brasileira. “Fere também o Código de Defesa do Consumidor, que diz que o manual de instruções de um serviço oferecido no país deve ser em português, e não em inglês, como no caso do Secret.” A addvogada e especialista em direito digital, Gisele Arantes entrou com ação na 35.ª Vara Cível de São Paulo pedindo a remoção do aplicativo no país.“O funcionamento do ‘app’ aqui no Brasil viola a nossa legislação, principalmente em relação ao anonimato”, relata Gisele. De acordo com o inciso 4.º do Artigo 5.º da Constituição Federal, é “livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato.”
(LUCAS GABRIEL MARINS, ESPECIAL PARA A GAZETA DO POVO)
“Quando comecei a receber relatos sobre o Secret preparei uma aula para gente debater o aplicativo. O ponto principal foi reforçar para os alunos que por mais que o aplicativo assegure o anonimato, não existe identidade preservada na internet. A partir do momento que você se cadastra, oferece seus dados para o administrador”, lembra o professor.
A estudante Camilla Carine, de 15 anos, conta que é usuária do Secret, mas que, até agora, não foi citada no aplicativo. No entanto, Camilla afirma que algumas de suas amigas já foram vítimas dos comentários que circulam pela internet. “Conheço pessoas vítimas de cyberbullying diferentes. Tem desde vítimas de mentiras até amigas que tiveram fotos nuas divulgadas no aplicativo.”
Márcio Ilkiu pontua que assim como em situações anteriores, os adolescentes são as principais vítimas da difamação on-line. “No começo do ano tivemos aquele problema das selfies e agora esse Secret. Não temos estatísticas sobre isso, mas novamente observamos que esta faixa etária é a mais afetada.”
A professora e coordenadora Márcia Chireia defende que apesar de, aparentemente, as meninas serem as mais afetadas pela difamação na internet, a questão atinge a todos. “Existem casos que focam na sexualidade ou na aparência desses adolescentes. De qualquer forma, ofende e muito.”
Márcia pontua que a escola e os pais devem manter o trabalho contínuo de conscientização dos riscos oferecidos na rede. “Por mais que esses adolescentes vivam conectados parece que eles ainda não entenderam a proporção da internet, que é a rede mundial de computadores. Fazer uma foto sensual não é uma questão que vai ficar entre quatro paredes, mas algo que pode se incansavelmente divulgado.”

Para o professor Castilho, o acesso fácil e abundante dos adolescentes aos aplicativos é o principal motivo para que eles sejam vítimas frequentes da difamação on-line. Ele defende que além da própria escola, os pais devem estar atentos aos aplicativos utilizados pelos filhos. “Os pais têm que se informar sobre o conteúdo dos aplicativos para poder instruir os filhos sobre o uso dessa tecnologia. Se o pai desconhece a finalidade dos aplicativos, não conseguem estabelecer uma política clara de uso para os adolescentes”, opina.
Cyberbullying pode ser pior que o bullying “real”, diz psicóloga
Agência RBS
Mariana*, de 16 anos, de Porto Alegre, ficou sabendo por intermédio de amigos que o tamanho do seu nariz tinha virado assunto no aplicativo Secret. “Fiquei chocada. Me senti mal. Minha autoestima já é baixa. É uma covardia, uma agressão”, relata a adolescente.
Psicóloga do Grupo de Estudos Sobre Adições Tecnológicas e do Centro de Estudos, Atendimento e Pesquisa da Infância e Adolescência, Aline Restano destaca que essa fase do desenvolvimento é marcada pela impulsividade. Ainda em formação, muitas vezes o jovem age sem pensar, o que na internet pode ter consequências imprevisíveis.
“O cyberbullying é considerado pior do que o bullying ‘real’ porque as vítimas têm a sensação de que todo mundo sabe, não adianta mudar de escola ou cidade para ter uma nova chance. O impacto é muito maior. Algumas se isolam, têm depressão ou até se suicidam”, alerta Aline.
Superexposição
Entusiasta das redes sociais por fortalecerem os laços entre famílias e escola, o professor de Filosofia Betover Santos costuma debater os riscos da superexposição. Recentemente, aproveitou conceitos previstos no plano de aula da disciplina, como ética e moral, para orientar turmas de ensino médio sobre o comportamento on-line.
“Quais as consequências daquilo que torno público? Tudo no mundo virtual, mesmo que anônimo, possui implicações morais e éticas. As redes exigem uma relação de zelo, cuidado, reciprocidade. Posso postar qualquer coisa, mas isso está passível de inúmeras interpretações. Qual o limite do que posso tornar público? O que ainda precisa permanecer no privado? Quanto mais idôneo, consciente, racional eu for, melhor será o uso da internet na minha vida”, analisa o professor de Filosofia.

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