O que mães, profissionais e parceiras que alcançaram o equilíbrio entre seus vários papéis têm a ensinar?
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A felicidade, claro, não é uma aspiração apenas feminina. A miragem de
um tempo perfeito e de uma vida perfeita faz sonhar e inquieta homens e
mulheres. Mas, de alguma forma, e de maneira surpreendente, essa miragem
parece mais inalcançável para o sexo feminino. Mesmo depois de
beneficiadas, nas décadas passadas, por aquilo que o historiador Eric
Hobsbawm chamou de a mais vigorosa transformação da história recente –
aquela que as emancipou da servidão doméstica, permitindo que
estudassem, trabalhassem e assumissem funções públicas antes reservadas
aos homens –, as mulheres ainda sofrem com suas próprias dificuldades e
contradições, tanto ou mais do que sofrem com as restrições impostas
pela sociedade. “Toda mulher é uma rebelde, normalmente em revolta
selvagem contra ela mesma”, escreveu, com infinito sarcasmo e muita
perspicácia, o escritor irlandês Oscar Wilde. As mulheres do século XXI
parecem de fato ser as juízas mais severas de si mesmas – em casa, no
trabalho, nas relações com os homens e no trato dos filhos. O resultado
disso é que a palavra culpa ocupa um espaço desproporcional em suas
vidas e atrapalha ainda mais a busca da felicidade.
Na reportagem especial a seguir, ouvimos pesquisadores e profissionais
de diversas áreas – dentro e fora do Brasil – para entender como as
brasileiras de carne e osso, em sua enorme diversidade, podem ser mais
felizes do que são. Os especialistas revelaram muitas coisas – como a
relação surpreendente entre o poder das mulheres e a quantidade de sexo
que elas praticam ou sobre o erro que o feminismo cometeu ao subordinar a
maternidade à realização profissional. Mas nada se compara à
experiência das próprias mulheres em organizar melhor suas vidas. Por
isso fomos ouvi-las.
Para a empresária Aline Cardoso Barabinot, de 33 anos, o segredo que
leva à sua forma particular e inestimável de felicidade é trabalhar
muito, mesmo que isso signifique perder momentos preciosos ao lado das
duas filhas. A dentista Patrícia Azevedo Dotto, de 40 anos, deixou sua
profissão para ser mãe em tempo integral e se descobriu em seu melhor
papel. A administradora de empresas Mônica Nascimbeni, de 32 anos,
divide-se entre o trabalho como gerente de marketing numa multinacional e
o papel de mãe e companheira. Mas não hesita em deixar tudo para trás,
nem que seja por algumas poucas horas, para praticar corrida ou
simplesmente ficar sozinha. A artista plástica Nuria Casadevall, de 48
anos, descobriu uma liberdade com que nunca tinha sonhado ao romper com
as pressões sociais para ficar solteira – e muito bem acompanhada dos
amigos e dos parceiros que partilhem seus valores de vida, dos quais ela
não abre mão por ninguém. Para a publicitária Florencia Lear, de 23
anos, a felicidade está em deixar o namorado a cargo da cozinha. E até
do tanque, se necessário. A atriz e modelo Sandra Garcia, de 27 anos,
transformou as exigências de sua profissão em relação a seu corpo numa
forma de valorização. Sabe que as horas diárias gastas na academia e as
calorias economizadas ao se privar de uma sobremesa são formas de cuidar
dela mesma numa vida corrida, em que divide as atenções entre o marido e
a filha Manuela, de 6 meses.
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