Prejudicada há alguns anos pela defasagem dos preços dos combustíveis,
a Petrobras já tinha uma situação financeira bastante delicada.
A Operação Lava Jato piorou as coisas. A estatal chegou ao ponto de
não conseguir publicar seu balanço dentro do prazo, algo inédito. A empresa
enfrenta agora uma série de riscos, que vão da dificuldade de captar dinheiro
para honrar suas contas e tocar seu plano de investimentos até o rebaixamento
de sua nota de crédito. E, enquanto o escândalo vai se desdobrando, os brasileiros
que apostaram na empresa veem o valor de suas ações cair a cada dia.
As cinco dores de cabeça da Petrobras:
Balanço atrasado
Ninguém sabe qual foi o desempenho, nos últimos meses, da maior empresa
brasileira – a própria diretoria tem suas dúvidas. A Petrobras deveria ter
publicado os demonstrativos contábeis do terceiro trimestre até 14 de novembro,
respeitando o prazo legal de 45 dias após o fim do trimestre. Mas não publicou:
a empresa de auditoria PwC se recusou a aprovar o balanço sem ter detalhes
sobre os casos de superfaturamento, que distorcem o valor do patrimônio da
companhia. A direção da Petrobras também não estaria muito à vontade em
publicar os dados sem ter mais informações sobre o alcance do escândalo, até
porque executivos investigados na Lava Jato podem ter manipulado resultados.
Por enquanto, a promessa é publicar os dados – auditados ou não – em 12 de
dezembro.
Sem crédito
Enquanto não publicar um demonstrativo auditado, a companhia não pode
captar dinheiro nos Estados Unidos, maior mercado de crédito do planeta, e terá
dificuldades para levantar recursos em outros países. Se o balanço não sair até
31 de dezembro, ela vai descumprir cláusulas de “obrigação de fazer”
(“covenants”) de títulos de dívida já emitidos, o que vai piorar sua reputação
no mercado de capitais e encarecer as próximas captações. A Petrobras precisa
de recursos porque toca um gigantesco plano de investimentos, de US$ 220,6
bilhões até 2018. Com R$ 66,4 bilhões em caixa ao fim de junho, a companhia não
precisará de dinheiro antes de 2015, mas a situação pode ficar feia
rapidamente: a petroleira investe cerca de R$ 20 bilhões por trimestre e tem
dívidas de curto prazo – a serem pagas em até um ano – de R$ 23,5 bilhões. As
alternativas seriam tentar emitir ações, vender parte do patrimônio ou reduzir
investimentos. A primeira opção é pouco provável em meio à crise atual, e as
duas últimas reduziriam as receitas futuras da empresa.
Rebaixamento
A Operação Lava Jato revelou que a Petrobras tem pouco
controle sobre suas compras e investimentos e a atuação de seus executivos. E
isso será levado em conta pelas agências de rating quando forem avaliar a nota
de risco da empresa. Hoje ela ainda tem “grau de investimento”, atribuído a
bons pagadores. Mas o escândalo eleva ainda mais as chances de rebaixamento,
que já vinham crescendo por causa do avanço descontrolado das dívidas da
estatal. Seu endividamento pulou de R$ 103 bilhões ao fim de 2011 para R$ 241,3
bilhões em junho de 2014. As dívidas equivalem a 3,94 vezes a geração anual de
caixa (Ebitda), muito acima das metas traçadas pela própria empresa – de um
endividamento de no máximo 2,5 vezes o Ebitda. Ultimamente a Petrobras já vinha
captando dinheiro a taxas elevadas, cobradas de empresas classificadas como
“grau especulativo”. Se for rebaixada, pagará mais caro ainda.
Paralisia nos investimentos
A Lava Jato instaurou o medo dentro da Petrobras. Os relatos
são de que ninguém está aprovando novos projetos, com medo de que isso possa
causar problemas no futuro. Natural, afinal as investigações têm como alvo pelo
menos nove grandes empreiteiras que são parceiras habituais da Petrobras.
Segundo a Polícia Federal, os contratos que elas têm com a estatal somam R$ 59
bilhões.
Menos patrimônio, menos lucro
As obras de pelo menos quatro refinarias da Petrobras – Abreu
e Lima, Repar, Comperj e Pasadena – foram superfaturadas, segundo as
investigações da Lava Jato. Isso quer dizer que o valor desses ativos foi
superestimado nos demonstrativos da empresa. Para “limpar” os balanços, a
Petrobras terá de dar baixa contábil nos valores superfaturados, lançando-os
como despesas, o que vai reduzir o lucro da empresa, prejudicando a companhia
e, principalmente, seus acionistas.
A dor de cabeça do investidor
Desvalorização das ações
Quem mais sai perdendo com os problemas financeiros e o escândalo da
Petrobras é o acionista minoritário que apostou na companhia. As ações da
empresa mais caíram que subiram nos últimos anos, e vêm batendo recordes
negativos nos últimos dias. Os papéis preferenciais, os mais negociados,
fecharam a terça-feira (18) cotados a R$ 12,45. Eles recuaram 13% apenas neste
mês e 27% desde o começo do ano. Quem participou da megacapitalização da
empresa, em 2010, pagou R$ 26,30 por ação. Desde então, elas perderam mais da
metade de seu valor. Em relação ao pico histórico atingido em 21 de maio de
2008, de R$ 52,51, a desvalorização é de 76%.
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