(VEJA)
“Serenamente. Serenamente. Estamos
dispostos a morrer em nossos postos. O que não sabemos é se os generais do
Pentágono e os senadores que proclamam a guerra contra nossa pátria estão
também dispostos a morrer.” Estamos em 27 de outubro de 1962. A retórica bélica
de Fidel Castro ressoava pelos alto-falantes do Malcón, a muralha que protege
Havana dos humores do Mar do Caribe. Não era retórica vazia. Fidel estava
montado em baterias de mísseis soviéticos SS-4 prontos para ser disparados e
apontados para Washington, Nova York e Chicago. Enquanto isso, na Casa Branca,
Robert Kennedy, ministro da Justiça e irmão do presidente John Kennedy,
avaliava aquele momento como o mais tenso da Crise dos Mísseis, entre Estados
Unidos e Cuba, apoiada pela União Soviética.
“Em outubro de 1962, o presidente John
Kennedy escolheu um caminho de ação que, no seu julgamento, trazia a
probabilidade de uma em três de uma guerra nuclear”, escreveu Bob Kennedy. Foi
o “Sábado Negro” da crise, dia em que um avião espião americano foi abatido
sobre Cuba e seu piloto morreu. A guerra parecia inevitável. John Kennedy e o
líder soviético Nikita Kruschev cortaram seus canais diretos de comunicação. Em
uma derradeira tentativa de evitar o pior, Bob Kennedy foi sozinho à casa de
Anatoly Dobrynin, embaixador soviético em Washington. Saiu de lá com um acordo.
Os americanos se comprometiam a, secretamente, tirar seus mísseis instalados na
Turquia, e os soviéticos aceitavam retirar imediatamente todo o seu arsenal
nuclear de Cuba. Ufa! Acabou a crise de treze dias que levara o planeta à beira
do precipício e colocara Havana no centro do palco da Guerra Fria, que dividia
o mundo entre o capitalismo e o comunismo. Na semana passada, depois de
cinquenta anos espetada como um espinho em uma das garras da águia americana,
Cuba, finalmente, pôde retomar seu destino de ensolarada ilha do Caribe, ponto
turístico atraente, habitado por um povo alegre e hospitaleiro. Barack Obama,
presidente americano, e seu colega cubano, Raúl Castro, anunciaram o começo da
normalização das relações entre os dois países.
Nenhum comentário:
Postar um comentário