segunda-feira, 2 de março de 2015

SERÁ QUE HA BLOGUEIRO SEMELHANTE A "TÉO PEREIRA?"

Téo Pereira, o personagem do Paulo Betti na novela Império (Foto: Divulgação/TV Globo)
Ele faz o maior sucesso com seu blog. Ele fala de maneira tranquila : "Desde que levantou da cama hoje cedo, quantas vezes você checou a quantidade de cliques e “likes” que seu último post recebeu nas redes sociais? Seja sincero. Não vale bancar o monge em profundo estado meditativo no alto da montanha."
Aposto que tirou o celular do bolso e espiou as notificações do Face enquanto aguardava o café no balcão da padaria. Isso se não perdeu uma hora inteira da sua manhã só para checar se riram da sua piada, se fizeram um afago no seu ego ou se o seu comentário impressionou alguém.
Somos todos Téo Pereira. O blogueiro maldoso e obcecado por cliques e “likes” na novela Império não está sozinho em sua sede de audiência. Essa não é uma prerrogativa de quem escreve para ganhar a vida. É uma necessidade de quem respira para continuar vivo.
O personagem de Paulo Betti é mais do que o estereótipo dos blogueiros sem ética. Téo Pereira é absolutamente humano. Queremos ser notados, apoiados, admirados ou odiados. Queremos existir. As redes sociais são um sucesso porque atendem a esses desejos e os levam às últimas consequências. 

Quem resiste à tentação de estar conectado o dia todo? As redes sociais são um instrumento incrível, mas é preciso saber usá-las. Téo Pereira corre sérios riscos – e não apenas porque alguém pode se vingar de seus posts ferinos. Meu malvado favorito pode se autodestruir num nevoeiro mental sem fim.

O neurocientista Daniel J. Levitin, da McGill University, no Canadá, explica isso muito bem no livro “The Organized Mind: Thinking Straight in the Age of Information Overload” (algo como “A mente organizada: pensando com clareza na era da sobrecarga de informação), ainda sem edição no Brasil.

“Cada atualização do Facebook que você lê, cada tweet ou mensagem de texto que recebe compete por recursos no cérebro com outras coisas importantes a fazer”, afirma. “Por exemplo, lembrar onde deixou o seu passaporte, tomar uma boa decisão sobre onde investir suas economias ou tentar uma reconciliação com um amigo depois de uma discussão”.

Vários estudos demonstram que para ser mais produtivo e criativo é preciso fatiar o dia para acomodar diferentes projetos ao longo dele. Cada coisa precisa ter sua hora e seu lugar. O neurocientista aconselha que as pessoas estabeleçam horários específicos para entrar nas redes sociais e para checar emails, em vez de permitir que essas e outras ferramentas provoquem constantes interrupções.

“A criatividade aumenta quando nos concentramos em uma única tarefa durante 30 minutos ou mais”, escreve Levitin. A ideia de que é possível fazer tudo-ao-mesmo-tempo-agora é sedutora, mas nosso cérebro não é capaz de processar tanta coisa sem perder a energia necessária para realizar o que realmente importa. Dá para fazer tudo ao mesmo tempo, mas não dá para desempenhar bem todas as tarefas.

“A ideia de que podemos ser “multitasking” é uma ilusão diabólica”, afirma Levitin. Ele cita os trabalhos do neurocientista Earl Miller, do MIT, um dos maiores especialistas em atenção dividida. Em vários estudos, Miller demonstrou que nosso cérebro não foi conectado para desempenhar múltiplas tarefas ao mesmo tempo.

Achamos que somos “multitasking”, mas apenas conseguimos mudar de uma tarefa a outra rapidamente. Cada vez que fazemos isso há um custo cognitivo. “Não somos excelentes malabaristas capazes de manter todas as bolas no ar’, diz Levitin. “Estamos mais para equilibristas de pratos amadores.”

Passar o dia checando as redes sociais ao mesmo tempo em que desempenhamos outras tarefas aumenta a produção de cortisol, o hormônio do stress. Ele superestimula o cérebro. Em vez brilhantismo, colhemos pensamentos embaralhados.


Depois de um tempo nesse ritmo alucinado e sem foco nos sentimos exaustos, desorientados, improdutivos. Adeus, criatividade. Será que o castigo para o ferino Téo Pereira será mergulhar num vazio criativo de fazer dó? Aguardemos seus próximos “Publique-se”

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