segunda-feira, 4 de maio de 2015

BLOG LITERATURA : A ESCRITORA LYA LUFT ESCREVE EM SEU LIVRO: "BRUXAS E FADAS EXISTEM!"


        





Recentemente, escrevi histórias infantis, nas quais me coloquei no papel de uma bruxa boa disfarçada de avó. Essa bruxa escondia atrás dos livros potes com pós mágicos, que usava para vencer as bruxas más, moradoras de um buraco no meio-fio ali na esquina. "Bruxa existe, fada existe, gnomo existe, bicho fala?", perguntava a criança que recheou minhas histórias com suas maravilhosas fantasias (uma de suas perguntas foi, aliás, se "à noite, as estrelas-do-mar acendem no fundo das águas"). Se bruxas e fadas existem...       Respondi que existem, claro, para as crianças que acreditam. Depois pensei que, no caso dos adultos, tudo depende de nossa capacidade de escapar da prisão de nosso melancólico ceticismo e, assim, adentrar os mistérios do mundo. Se é possível acreditar que somos transcendentais, que existe o sagrado fora de uma religião institucionalizada, por que não existiriam criaturas miraculosas? E quem garante que, de vez em quando, dois mais dois não é algo diferente do tedioso quatro?Pesquisadores geniais começam a abrir frestas de conhecimento que nos revelam universos insuspeitos (seriam os das bruxas medievais?). Comecei a querer entender o mundo quando ainda nem comia à mesa dos adultos (outros tempos!), intrigada, principalmente, com as tempestades que resfolegavam como um grande animal sobre as árvores do jardim. Sempre quis entender: porque não entendo, escrevo. Como jamais entenderei, até o fim da vida tentarei expressar em palavras, e entrelinhas, esse desejo de tocar o indizível. Bruxas existem, fadas existem, a vida depois da aparente morte existe, os encontros humanos são destinados: algo secreto maneja os laços que se atam e desatam em amores, família, amizades e até encontros breves.              Por que não? Nada é impossível na vastidão do processo no qual estamos como as árvores na floresta e as conchas na areia: transformação, não deterioração; soma, não redução. Se conseguíssemos enxergar isso, seríamos muito mais tranqüilos, mais abertos e ousados. Daríamos mais importância ao crescimento, e não à castração; à dignidade e ao amor, e não à vingança e ao ressentimento. Teríamos consciência de que a vida nos lançou fora do casulo do não-saber para exercermos generosidade e liberdade, até sermos de novo encerrados (ou expandidos?) nisso que chamamos morte.   Ao menos por algum precioso instante de libertação, todos devíamos poder ser crianças que acreditam que à noite, quando todos dormem, esta que aqui escreve voa sobre os telhados em sua vassoura, feliz porque os que ama dormem protegidos, enquanto ela, a Bruxa Boa, sob a claridade da lua, gira, vigilante.

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