Share ButtonMeu amigo e um dos colaboradores do blog, Marcelo Barboza,
postou esta crônica e fiquei motivado em divulgá-la na íntegra
por ser reflexo da realidade em que vivemos.









O Brasil é um país muito dificultoso. Aqui sempre aparecem os donos da bola.Alguns professores universitários acham que são donos da universidade. Não são. A universidade é de todos nós, tenhamos ou não estudado nela.
Alguns professores estaduais acham que são donos das escolas públicas. Não são. As escolas pertencem aos pagadores de impostos.
Alguns ambientalistas acham que são donos da natureza. Não são. A natureza é de todos os seres humanos – e não deve ser privatizada por supostos amigos.
Muitos políticos acham que são donos de seus cargos. Não são. Quem manda em seus cargos é – ou deveria ser – o eleitor.
O PT acha que é dono da Petrobras. Não é. A Petrobras pertence a quem paga o alto preço da gasolina e da corrupção.
Alguns grevistas acham que são donos da democracia e da liberdade de expressão. Não são. A liberdade pertence a cada indivíduo humano – e há limites para que a liberdade de uns não fira a de outros. Os donos da bola não gostam desses limites, também conhecidos como leis.
Outro dia, o procurador do município foi vaiado por que invocou o direito constitucional à livre iniciativa. “Ué, vocês estão vaiando a Constituição?”, reagiu ele. Não estou falando por ouvir falar. Estou narrando o que vi e ouvi.
Em nosso País, os donos da bola – que se apresentam como militantes da liberdade, igualdade e fraternidade – consideram-se autorizados para atormentar, xingar, perturbar, expropriar, agredir, difamar e julgar todos aqueles a quem consideram “inimigos do povo” ou “representantes da elite”. Usam a democracia para destruir a própria democracia.
Há um ditado que diz: “Se você quer conhecer uma pessoa, use os sapatos dela por algumas léguas”. Durante anos, eu caminhei com as botas da militância e me considerava um intelectual dono da bola. Hoje sei que não passo de um aprendiz diante da complexidade do mundo.  E me recordo sempre de uma frase de Pérsio, satirista romano do século IV: “Já quebrei meus grilhões, dirás talvez. Também o cão, com grande esforço, arranca-se da cadeia e foge. Mas, preso à coleira, vai arrastando um bom pedaço da corrente”.