sábado, 5 de setembro de 2015

BLOG SAÚDE : O QUE SÃO DOENÇAS PSICOSSOMÁTICAS?"


Aglomerado de bactérias Staphylococcus aureus resistentes a antibióticos. Essas bactérias podem causar vários tipos de infecção e, até, levar à morte. (Foto: U.S. Centers for Disease Control and Prevention)

 “As Doenças São Psicossomáticas”. 
Se você, como eu, tem idade suficiente para se lembrar de alguma coisa dos anos 70, talvez
 se recorde do uso exaustivo, repetitivo e irritante do adjetivo “psicossomático”. Formado 
pela junção dos termos gregos para mente (“psico”) e corpo (“soma”), classifica problemas
 físicos de saúde cuja causa, profunda, encontra-se no estado do espírito do paciente.
Não é difícil ver que muita coisa pode mesmo ser psicossomática: estados emocionais 
afetam a pressão sanguínea, a produção de hormônios, o ritmo da respiração. 
No fim, estados mentais são estados do cérebro, e o cérebro é um órgão físico, sólido, 
que é tão parte do corpo quanto o fígado ou o coração.
O problema é que quem diz que “as doenças são psicossomáticas” geralmente está se 
referindo a todo tipo de problema, incluindo doenças infecciosas como gripe ou aids, 
ou males de causa complexa, como câncer. O que é não só errado, como cruel e perigoso.
Entre as causas não-psicossomáticas de doenças estão coisas como fatores ambientais 
e predisposições genéticas mas, talvez por sua proeminência histórica, o alvo preferencial 
dos apóstolos radicais da “causa psicossomática” é a teoria dos germes.
A existência de micro-organismos foi estabelecida ainda no século 17, mas sua relação com
 a doença só foi notada no século 19, graças ao trabalho de cientistas como Ignaz 
Semmelweis (1818-65), que provou que médicos que lavam as mãos transmitem 
menos doenças para seus pacientes; Louis Pasteur (1822-95), que criou as primeiras 
vacinas; e Robert Koch (1843-1910), que provou que bactérias causam cólera e tuberculose.
Cem anos antes do trabalho desses pioneiros, outros cientistas já tinham visto micróbios 
no sangue de pessoas doentes, mas haviam interpretado a evidência de trás para frente, 
supondo que era da doença que brotavam os bichinhos, e não o contrário.
O dogma psicossomático aparece em dois sabores: o “puro”, que simplesmente ignora 
a existência de coisas como germes, predisposições genéticas ou contaminantes ambientais,
 e o “misto”, segundo o qual germes, genes e meio ambiente podem até ser a causa imediata da 
doença – mas essas coisas só teriam, digamos, “permissão” para atacar uma pessoa quando 
as defesas mentais caem.
Ambas as versões, no fundo, representam uma recaída atavística na velha teoria do pecado:
 durante milênios, doença foi associada a algum tipo de castigo divino, se não dos próprios
 pecados, dos pecados dos ancestrais, de vidas passadas ou do povo.

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