Os cerca de 3 mil processos que tramitam na Vara da Infância e
Juventude são apenas a ponta do iceberg de uma série de violências
sofridas por crianças e adolescentes em Londrina. Foi o que constatou
ontem a juíza Isabele Ferreira Noronha, na primeira palestra do projeto
"Justiça se ensina na escola", em uma instituição pública da cidade -
que não será citada para preservar os alunos.
Após a fala da juíza, as crianças denunciaram violência doméstica,
abuso sexual e tráfico de drogas, por exemplo. Durante a palestra,
ela explicou aos alunos quais as possíveis violências cometidas
contra crianças e para as quais elas devem estar atentas.
“Falei em linguagem bastante acessível dizendo que o papai
bater na mamãe não pode; mostrando as partes do corpo delas
que não podem ser tocadas por outras pessoas”, afirmou.
“A partir daí, muitas crianças começaram a fazer várias perguntas
e percebi que estavam vivendo estas situações. A ideia inicial era
apenas fazer a palestra, mas vi que precisava ouvir essas crianças,
por isso fizemos o atendimento individual coletando as denúncias.”
Mais de 20 alunos, do 2º ao 5º ano, foram ouvidos pela promotora
Josilaine Aleteia de Andrade e a juíza, na biblioteca da escola,
sobre as situações que estão vivendo. “Não esperávamos por
isso. São muitas denúncias: primo de 15 anos que abusa da irmã
de 6 e bate na mãe; pai alcoólatra que bate e espanca; aluna que
diz que foi abordada na vinda para escola com oferta de droga”,
relatou Isabele. “Agora vamos investigar cada um destes casos.
Estamos vendo que as situações que chegam para nós na Vara
da Infância não retratam a realidade, são apenas a ponta do iceberg.”
A magistrada acrescentou que, como coordenadora do projeto
“Justiça se ensina na escola”, vai orientar os juízes e promotores
que irão ministrar palestras nas outras 14 escolas a estarem
atentos às manifestações das crianças e que também abram
espaço para atendimento individual. “Acreditamos que esta
demanda vai aparecer nas outras escolas também, uma vez
que as 15 escolas escolhidas para o projeto estão em
contexto de vulnerabilidade.”
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