As análises de água realizadas, indicaram que o rio hoje está soterrado com partículas de metais pesados como chumbo, alumínio, ferro, bário, cobre, boro e mercúrio. A água não tem mais utilidade nenhuma, sendo imprópria para irrigação, consumo animal e humano. Não somente as altas taxas de metais pesados foram prejudiciais, a própria força da lama inutilizou a biodiversidade do rio para sempre. Além disso, ambientalistas não rejeitam a probabilidade de que espécies só encontradas neste rio tenham sido soterradas pela lama e possam estar a ponto de desaparecerem para sempre.
As toneladas de
lama que vazaram no rompimento há dez dias de duas barragens da
empresa Samarco em Mariana (MG) são protagonistas do maior desastre ambiental
provocado pela indústria da mineração brasileira –a Samarco é empresa fruto da
sociedade entre a Vale e a anglo-australiana BHP Billiton.
Sessenta bilhões de
litros de rejeitos de mineração de ferro –o equivalente a 24 mil piscinas
olímpicas– foram despejados ao longo de mais de 500 km na bacia do rio Doce, a
quinta maior do país.
Segundo ecólogos,
geofísicos e gestores ambientais, pode levar décadas, ou mesmo séculos, para
que os prejuízos ambientais sejam revertidos.
Destruídos pelo
tsunami marrom, que deixou ao menos sete mortos e 15
desaparecidos, os distritos de Bento Rodrigues e Paracatu de Baixo
devem se transformar em desertos de lama.
"Esse resíduo
de mineração é infértil porque não tem matéria orgânica. Nada nasce ali. É como
plantar na areia da praia de Copacabana", diz Maurício Ehrlich, professor
de geotecnia da Coppe-UFRJ (centro de pesquisa em engenharia da Federal do
Rio).
"Nada se
constrói ali também porque é um material mole, que não oferece resistência. Vai
virar um deserto de lama, que demorará dezenas de anos para secar", diz.
Segundo ele, a
reconstituição do solo pode levar "até centenas de anos, que é a escala
geológica para a formação de um novo solo".
RIO DOCE
Transformado em uma
correnteza espessa de terra e areia, o rio Doce não pode ter sua água captada.
O abastecimento foi suspenso, e cerca de 500 mil pessoas estão com as torneiras
secas.
Especialistas que
conhecem a região descrevem o cenário como "assustador".
Para Marcus
Vinicius Polignano, presidente do Comitê de Bacia do rio das Velhas e professor
da UFMG (Federal de Minas Gerais), um dos mais graves efeitos do despejo do
rejeito nas águas é o assoreamento de rios e riachos, que ficam mais rasos e
têm seus cursos alterados pelo aumento do volume de sedimentos, no caso, de
lama. "É algo irreversível. Fala-se em remediação mas, no caso da lama nos
rios, não existe isso. Não tem como retirá-la de lá."
Enquanto está em
suspensão no rio, a lama impede a entrada de luz solar e a oxigenação da água,
além de alterar seu pH, o que sufoca peixes e outros animais aquáticos. A força
da lama ainda arrastou a mata ciliar, que tem função ecológica de dar proteção
ao rio.
"A perda da
biodiversidade pode demorar décadas para ser reestabelecida. E isso ainda vai
depender de programas montados para esse fim", diz Ricardo Coelho, ecólogo
da UFMG. "Existe ainda a possibilidade de espécies endêmicas [que existem
só naquela região] serem extintas."
"Há espécies
animais e vegetais ali que podemos considerar extintas a partir de hoje",
diz o biólogo e pesquisador André Ruschi, diretor de uma das mais antigas
instituições de pesquisa ambiental no país, a Estação de Biologia Marinha
Augusto Ruschi.
Ele chama a atenção
para o fato de que o rompimento das barragens coincidiu com o período de
reprodução de várias espécies de peixes. "É o maior desastre ambiental da
história do país", avalia.
Mariana entra para
a história como uma "ferida aberta", diz Polignano. "É a prova
de que nossa gestão ambiental está falida."
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