As letras lamentam desilusões amorosas. É claro que se trata de Adele. Seu novo álbum, 25, repete a fórmula dos dois trabalhos anteriores. É monótono para alguns, mas adorado por milhões.
Aos 27 anos, Adele tornou-se um ponto fora da curva descendente da indústria fonográfica. Em apenas três dias, vendeu 2,4 milhões de cópias nos Estados Unidos e se tornou o álbum mais vendido do ano no país. Bateu também o recorde histórico de vendas na primeira semana do lançamento, que pertencia a No strings attached, do extinto grupo NSync. Detalhe importante: o álbum do NSync foi lançado em 2000, quando a indústria fonográfica movimentava US$ 26 bilhões ao ano, quase o dobro do valor atual, segundo a Federação Internacional da Indústria Fonográfica.
Adele é imune à crise. Não é apenas o desempenho comercial que faz dela uma anomalia na música pop. Enquanto muitos esperam que as plataformas de streaming sejam a salvação para a indústria, a inglesa proibiu esses sites de reproduzir o disco – atitude que contribuiu para aumentar as vendas de 25.
Diferentemente de quase todas as cantoras de sua idade, comoTaylor Swift, Katy Perry e Rihanna, Adele não usa redes sociais para se promover. Já disse que não escreve no Twitter e no Facebook devido ao “medo de publicar algo que não deveria por estar bêbada”. Apenas nos últimos dias começou a circular para divulgar o álbum e aceitou convites de programas de televisão. Afirma que prefere passar mais tempo com o filho de 2 anos.
Adele é uma cria da Brit School for Performing Arts & Technology, escola que também ajudou a desenvolver o (pouco ou muito, dependendo do caso) talento de nomes como Amy Winehouse, Leona Lewis e Jessie J. Em janeiro de 2008, pouco mais de um ano depois de completar o curso, lançou seu primeiro disco, 19, em que são imediatamente reconhecíveis suas fontes de inspiração: vultos do jazz e do soul, como Etta James e Ella Fitzgerald, e cantoras de estilo mais adulto, como Annie Lennox e Dusty Springfield. Naquele momento, a música pop reverenciava Amy Winehouse, que bebia na mesma fonte de Adele e tinha mais personalidade. Não havia espaço para mais ninguém. O segundo álbum de Adele, 21, saiu no começo de 2011, com letras autobiográficas sobre o fim de um namoro(“Someone like you” ) e a volta por cima (“Rolling in the deep”). Musicalmente, Adele não arriscou, e o conservadorismo funcionou: as canções de 21 atraíram a atenção de crianças, adolescentes e dos pais dessas crianças e adolescentes. O disco estourou, vendendo até hoje mais de 30 milhões de cópias. A cantora ganhou pontos ainda por não se encaixar nos padrões de beleza de outras pop stars: gordinha e linda, virou exemplo para as meninas que não fazem questão de ser magras.
A fórmula musical vencedora de 21 foi reembalada em 25 – com toques que deixam Adele parecendo mais velha do que é. O vozeirão vai em primeiro plano ao lado do piano, como no megahit “Hello”, e em faixas como “When we were young” e “Remedy”. Uma das poucas que destoam do clima vetusto é a alegre e irônica “Send my love (To your new lover)”. Pode soar monótono, mas a voz poderosa garante o sucesso com milhões. Inovar para quê?
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