sexta-feira, 18 de março de 2016

MORO ESTÁ SENDO O SALVADOR DA PÁTRIA?


Moro 1
Golpes de Estado costumam ser tramados por forças poderosas que têm seus interesses contrariados e não conseguem se impor pela via da legalidade democrática. Daí a peculiaridade da mais grave crise que o país atravessa desde a redemocratização: seu protagonista é um juiz. 
Moro foi tornado herói pelo mesmo motivo de Joaquim Barbosa, presidente do Supremo Tribunal Federal à época do julgamento do Mensalão: a coragem de levar à cadeia alguns representantes do “andar de cima”, fossem parlamentares, operadores de esquemas de propina ou, agora também, altos executivos e donos de empreiteiras. Num caso como no outro, a mídia hegemônica fez diligentemente esse trabalho de construção da imagem do salvador da pátria, que só pode vingar quando se produz o caos e o descrédito da representação política tradicional. Barbosa, no caso, comparativamente levava vantagem, porque sua história de menino negro e pobre que superou tantos obstáculos para chegar a um dos cargos mais importantes da República se adaptava perfeitamente a essa narrativa.

“Quantas vezes na história do Brasil você viu tanta coragem? Quantas vezes você viu tanta determinação e ao mesmo tempo tanta competência e equilíbrio? Quantas vezes você viu corruptos terem tanto medo de alguém? Este homem e seu grupo estão, de verdade, mudando o Brasil.

Como assinalou o jornalista Bernardo Mello Franco (“A ascensão do Super Moro”, Folha de S.Paulo, 15/3), o magistrado “não aparenta constrangimento com o culto à sua personalidade. Pelo contrário: em nota, agradeceu ‘a bondade do povo brasileiro’ e, num arroubo populista, pediu que os partidos ‘ouçam a voz das ruas’”. O jornalista argumenta que um juiz “não deveria buscar apoio da opinião pública nem se associar a investigações conduzidas por procuradores e policiais. Enquanto a lei não mudar, seu papel é analisar provas e decidir de forma imparcial”. 

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