domingo, 12 de junho de 2016

ARQUIVO DA FOLHA DE LONDRINA: EM 1975 OCORREU A GEADA NEGRA "NÃO SOBROU UM ÚNICO PÉ DE CAFÉ!"

O dia 18 de julho de 1975 entrou para a história da agricultura paranaense como a lembrança mais triste dos cafeicultores do Norte do Estado. Durante a fria madrugada daquele dia, quase todos os pés de café foram queimados pela geada negra, que causou mudanças econômicas e sociais no Paraná. 

O assessor da Cooperativa Integrada, Ademar Ajimura, com 26 anos na época, trabalhava com o pai na fazenda da família que tinha 120 alqueires de café. Quase 40 colonos trabalhavam no plantio e na colheita da principal cultura paranaense na fazenda, localizada em Cambé. 

Ajimura lembra que a geada começou ainda na tarde anterior quando a temperatura chegou aos 0º C por volta das 15h. No mesmo dia, nevou em Curitiba. "Antes da geada negra, choveu três dias seguidos. No dia 17, o tempo abriu e a temperatura caiu drasticamente. Depois das 16h, já era possível sentir o cheiro de folha queimada no ar", relata. 

Ele recorda que durante a madrugada a temperatura atingiu -6ºC na relva e que uma camada de gelo de aproximadamente 40 cm se formou sobre o solo. "Eu e meu pai vimos todos os pés de café pretos nas propriedades dos vizinhos, mas não conseguimos chegar até a fazenda por causa do gelo na estrada. Somente na parte tarde, chegamos ao local e verificamos que os 150 alqueires foram perdidos", disse. 

Os agricultores foram obrigados a erradicar 100% dos pés de café, que foram substituídos pela soja. "Desde 1971, pequenas partes de terras eram reservadas para o milho e para soja que tinham dificuldades de escoamento e de mercado, o que mudou a partir de 1975", avaliou. "Até hoje, a região de Londrina não tem uma cultura definida. O café seria essa cultura se a geada negra não tivesse destruído os pés", opinou Ajimura, lembrando que a cidade era a capital mundial do café. 


Arquivo


Mudanças

A tragédia da geada negra também acelerou algumas mudanças sociais no Paraná, entre elas, o êxodo rural dos colonos em busca de novas oportunidades na área urbana. 

O supervisor da Integrada, Ciro Ohara, responsável por um dos maiores acervo sobre a história do café em Londrina, ressalta a importância da monocultura naquela época para a economia local. "O café dava muita mão de obra e por isso várias casas eram construídas no campo para os colonos. Nos finais de semana, as pessoas se reuniam nas vendas para conversar com os amigos e familiares e para jogar bola na zona rural. Tudo isso acabou depois da geada. Ninguém mais morava no sítio", recorda. 

Ohara também lembrou que a maior máquina de café da América Latina para seleção e classificação de grãos estava em Londrina. Em 1958, os cafeicultores compraram a quadra entre a Rua São Jerônimo e Avenida Celso Garcia, onde funcionava um campo de futebol para instalação do equipamento, que empregava funcionários no setor. Atualmente no local, funciona a sede da cooperativa e a máquina ainda é conservada na área como relíquia da história londrinense.

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