Alberto Cosmelli
Muito boa esta carta de uma leitora para a FERNANDA TORRES :
"Há anos que te acompanho e sempre comentava com as pessoas que queria
ser sua amiga! Não perdia uma coluna quinzenal sua, tenho a sua idade, li
Proust como você, amava Os Normais, e assisti a sua peça e seu livro (Fim).
E hoje, para minha surpresa, senti que murchei... Murchei, fiquei muito
triste de ler que você ficou entre a "cruz e a caldeirinha" e optou
por defender a classe pela qual você trabalha. Assim
Consequentemente , a caldeirinha que você se refere, são os restantes 11
milhões de desempregados e , e uns 100 milhões de pobres que encaram a
fila do SUS, do ônibus, da creche, da UPA.
Na “caldeirinha da crise”, cabem também aposentados que não recebem,
escolas em greve há meses, famílias despedaçadas pela violência que a polícia e
UPPs não conseguem mais defender, é falta de verba, entre outras mazelas.
Pergunte ao povão se na hora que perdem um filho na fila do hospital, o
que é prioritário: leitos ou peças de teatro?
Perguntem ao Beltrame, qual tem sido o maior retrocesso? A perda do
status do MinC, ou a perda da tropa e do território que as UPPs ocupavam ,
ajudando milhares de moradores a sentirem mais segurança nas comunidades?Nos
últimos cinco anos, 24.000 leitos hospitalares deixaram de existir... porém não
sabemos quantos morreram por causa disso. Sabemos sim que os artistas têm dado
um show de indiferença em relação ao país! Vocês pensam classe! Deviam pensar país!País
na UTI que a presidente deixou um rombo de 200 bi, e a classe artística chora
pelo retrocesso!
Em algum momento vocês pensaram nos que choram há anos sem assistência?
Querem um Brasil com menos gastos e impostos, desde que não saia da classe de vocês!
Vocês se acham mais importantes que os milhões de desempregados?Os
milhões que foram roubados, sonhos que tornaram pesadelos, pelo pior governo da
história? Vocês têm tempo para ver a TV Cultura e o programa Roda Viva, onde
técnicos apartidários explicam direitinho que não houve golpe nenhum, que houve
roubalheira sim, pedaladas sim, e que este governo provisório está previsto sim
pela constituição e que não é ilegítimo? Se fosse, o Supremo já teria impedido!
Já pensou que o argumento de ser representada por mulheres ou não, é
outro ângulo infantil e sem noção? Sou mulher e quero ser representada por qualquer
ser humano ético, trabalhador, corajoso, criativo, e competente. Se tem útero
ou não, não faz a menor diferença! . Mas nem vou falar mais sobre isso de tão
idiota que é o raciocínio da representatividade por sexo.
Você não espera nada da equipe econômica? Prefere chamar Dilma de volta?
Para ver se o Brasil quebra mais ainda? A equipe é o que temos de melhor e você
faz beicinho? Sem investidores e credibilidade resgatada, não teremos nada!!! E
antes da cultura, temos que fazer a roda girar, entrar dinheiro pela porta da
credibilidade e não da cultura, q é uma porta que os investidores não estão
muito preocupados.
Quem você chamaria? Guido Mantega ou algum preso do PT? E depois que a
roda girar, se.
a classe artística permitir terá que existir uma palavra chamada prioridade,
e a classe artística não é. Sorry! Nunca vi uma classe tão voltado pro próprio umbigo!
Se eu tivesse que peregrinar nas filas de hospitais públicos para não ser atendida,
iria falar mal muito a classe artística, que perdeu a chance de se mostrar grande.
Educação neste pobre país vem antes, junto com saúde, e depois, segurança, infraestrutura,
mobilidade urbana, planejamento, agricultura, ciência, esportes, cultura....
Até a semana passada, eu era fã. Sua fã e de vários outros artistas. Não sou mais.
Aprendi que vocês que fazem esse mimimi não tem noção de país, cidadania, pobreza,
desemprego, e aposentadoria.
"Que mexam em tudo, menos na classe que represento.” Lamentável.
Revoltante. Mentes pequenas e egoístas. Tristeza mesmo .
Queria ter sido sua amiga para ter a chance de você me ouvir, pois sei
que escrevo aqui para as paredes. Se você não ler, pelo menos vou compartilhar
o que escrevi.
Desejo a vocês da classe artística, um passeio pelo dia a dia desses
milhões de brasileiros que você preferiu colocar, no começo do seu artigo,
dentro de uma "caldeirinha" ao optar por olhar o umbigo da minúscula
classe artística. Hoje assisti com minha filha de 11 anos, o antigo e excelente
filme "Ghandhi", com Ben Kingsley. Já havia visto antes, mas quis
mostrar a ela o que é grandeza. Gandhi passava fome e se anulava para defender
os oprimidos . Enfrentou e expulsou o império britânico com palavras de
não violência .
E a classe artística faz beicinho, ocupa teatros à noite e segura
plaquinhas em Cannes reclamando da secretaria como se fosse uma extinção, um
fuzilamento.
Perdi uma das minhas referências artísticas hoje, ao ler a sua coluna.
Tô de mal, acho até que vou fazer beicinho e não entro mais em teatro por uns tempos.
Agora perdemos todos!
Valeu!!"
Marta
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