O professor do Departamento de Arquitetura e Urbanismo do CTU, Nestor Razente conseguiu levantar oito cidades brasileiras deixaram de existir entre os séculos 19 e 20 - Ararapira (PR), Biribiri (MG), Airão Velho (AM), Desemboque (MG), Bom Jesus do Pontal (TO), Cococi (CE), Fordlândia (PA) e Ouro Fino (GO), dos quais conseguiu visitar três: Ararapira, Biribiri e Airão Velho, onde fez um levantamento sobre as ruínas, condições topográficas, além de registros fotográficos. Sobre as demais o professor conseguiu reunir materiais inéditos, que estão organizados no livro em 372 páginas, com 97 imagens.
Questionado sobre qual a povoação que deixou de existir que mais o impressionou, ele ressaltou que essa decisão era difícil de ser tomada, mas acabou escolhendo Airão Velho, porque a mata está tomando o lugar que é dela. "As árvores nasceram por todos os lugares e estão subindo pelas janelas e portas. Os muros estão carcomidos. O fato da mata retomar seu lugar de volta me impressionou muito", destacou. Ele ressalta que o local está sendo cuidado por um japonês, Shigeru Nakayama, natural da província de Fukuoka (sul do Japão)e que se estabeleceu no Brasil no início dos anos 1960 e desde 2001 reside em Airão Velho. A imagem de Ararapira em ruínas também o impressionou. "A erosão provocada pelas ondas do mar destruiu ruas e já está chegando perto da igreja", diz apontando para uma foto antiga em que algumas das casas em ruínas ainda estavam em pé.
Segundo Razente, não é porque uma localidade está despovoada que necessariamente deva estar em ruínas. O professor destaca que essas povoações têm uma esperança de reviver através do turismo. "Um desses exemplos no Brasil é Biribiri, que fica a 15 km de Diamantina (MG)e está intacta", conta. A fábrica da família Mascarenhas, do ramo de tecelagem, chegou a ter 1,2 mil habitantes, mas fechou as portas na década de 70. Hoje residem por lá quatro pessoas. "Dois filhos da família Mascarenhas são arquitetos e mantiveram a cidade em condições habitáveis. A família tentou vender Biribiri como um todo, mas quando não conseguiu, começaram a fatiar", relata o professor.
Razente relata que essa pesquisa começou há 4 anos e meio, com uma pesquisa acadêmica no departamento. "As abordagens que encontrei não satisfaziam as necessidades acadêmicas da minha parte. Constatei que havia muito mais fotógrafos usando as ruínas como objeto de sua arte, mas para nossa área ficou sempre aquela inquietação do porquê ninguém ter escrito sobre o assunto (sob o ponto de vista acadêmico da arquitetura)", destaca. Ele ressalta que no século 20 e 21 a urbanização se fez aceleradamente. "Segundo a ONU, 56% da população reside na cidade. No Brasil esse número é maior, mais de 86%. Em Londrina esse número é superior a 95%. "A primeira coisa que aparece é uma inquietação em relação a um mundo cada vez mais urbanizado e ao mesmo tempo surgem localidades em que vivem uma só família", aponta. De acordo com o professor, os urbanistas mostram grande preocupação com planejamento urbano e problemas de grandes metrópoles, em detrimentos de pequenos municípios.
Segundo Razente, no Paraná há uma tendência de despovoamento na região Noroeste do Paraná, principalmente em cidades que ficam na divisa do Paraná com São Paulo. Ele explica que os jovens estão saindo dessas cidades e apenas os idosos, que não dependem de um emprego, pois vivem da aposentadoria, permanecem nesses municípios. "Eu percebi que essa tendência tem acontecido na Espanha. Se você pegar os classificados de um jornal espanhol é comum ver oferta de vilas inteiras", destaca.
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