sexta-feira, 19 de maio de 2017

BLOG DA LITERATURA: "AS MEMÓRIAS DO LIVRO"... LEITURA IMPERDÍVEL!








A protagonista, Hanna, é uma estudiosa e reparadora de documentos antigos. É assim que ela se depara com uma Hagadá (como uma bíblica judaica) com uma característica não muito comum: ela tem imagens para explicar as passagens e os costumes judeus. Datada do século XIV, a obra deveria ter sido queimada na Inquisição posterior ao período. Ou mesmo não deveria ter sido aceita em seu período — quando os iconoclastas destruíam as imagens que representavam Deus e os acontecimentos, alegando que isso era um pecado praticado pelos homens, que tentavam chegar aos pés do Criador com suas imagens (até hoje a adoração de imagens não é aceita por muitas religiões, não é mesmo?).
O livro em que está trabalhando é para uma exposição no museu em Sarajevo — uma cidade que merece a obra, para melhorar a auto-estima de todos, demonstrando que as religiões “conversavam” entre si na época da Convivência — tempo em que judeus, muçulmanos e árabes viviam juntos e respeitavam-se.
Neste livro, ela descobre de quando e de onde começou a ser, graças ao tipo de pergaminho utilizado (uma pele de cordeiro que era de uma certa região e que extinguiu-se há séculos); e também encontra outros detalhes que podem ajudar a reconhecer por onde o livro passou para chegar até os tempos atuais: um pêlo branco, uma asa de um inseto; vinho e sangue; sal; onde foi feita sua última encadernação e porquê lhe faltavam detalhes importantes em sua capa.
É nessa parte que entram as histórias paralelas: cada resquício encontrado tem sua história, mostrando por onde o livro passou e quem o guardou ou salvou: a escravidão de artistas; as cores difíceis de serem encontradas, usadas nas pinturas; a expulsão dos judeus; a Primeira e a Segunda Guerra Mundial; a Santa Inquisição. Tudo por causa de uma pequena marca deixada num livro — portanto, mais do que a história escrita no livro, há a história que o rodeia e que o fez chegar até os tempos atuais.
Tenho uma amiga que detesta que sublinhemos o livro que estamos lendo ou que façamos anotações nele. Ela tem razão — acredita que seja quase que como um abuso, denegrirmos uma “obra de arte”. Mas, nas poucas vezes que vou a uma biblioteca, gosto de ver isso: pelas mãos de quem um livro já passou e quais poderiam ser as impressões dessas pessoas (inclusive é isso que me faz escrever aqui). Um livro pode andar muito e contar muito de nossa história.
Adoro isso: o cheiro do papel, sua cor característica; o amor de quem me deu ou a delícia de escolhê-lo nas prateleiras; o namoro que se segue entre mim e a capa e o pequeno resumo na orelha do livro. São pequenas declarações de amor a um hábito delicioso de ler e respeitar o que está escrito.
O livro As Memórias do Livro foi criado a partir de fatos reais — como a real descoberta desta Hagadá. Acredito que a autora — uma jornalista que trabalhava em Sarajevo na época de tal descoberta — deve ter esse mesmo amor pelos livros (senão mais) e por isso, escreveu um livro que nos faz nos apaixonarmos mais ainda pela leitura.
Muito bem escrito, com informações reais e pertinentes, que não deixam a ficção ser só ficção. Não dá pra parar de ler! Perfeito pra quem ama livros! 



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