Jackie Rodriguez ganhou 32 kg depois que sua primeira filha nasceu. “Eu estava me sentindo muito infeliz, mas fiquei assim por dois anos”, diz ela. Após esse período, Jackie conseguiu perder os quilos em excesso quase sem esforço. “Eu não tomei nenhum redutor de gordura, shake... nada”, relembra ela.
A transformação não teve nada a ver com o que Rodriguez comia. Em vez disso, começou quando ela mudou de emprego e isso mexeu com sua rotina. Trabalhando no escritório de uma empresa de DJs próxima do seu apartamento, em Nova York, seu expediente começava às 17h30. Em vez de jantar com o marido às nove da noite, quando ele voltava do trabalho, ela comia sozinha às cinco da tarde, antes de deixar a filha com a babá e ir para o trabalho.
Em nove meses, ela conseguiu o incrível feito de passar do manequim 46 para o 36. Como empregos noturnos em geral levam ao ganho de peso, o caso de Rodriguez pode parecer uma peculiaridade da sua compleição física. Porém, ao contrário de muitos trabalhadores que dão expediente de madrugada ou em turnos, Rodriguez saía às 23 horas, e tinha uma noite inteira de sono regular. Talvez mais importante ainda: ela não fazia nenhuma refeição no trabalho ou quando chegava em casa – só tomava banho e ia para a cama.
O maior ajuste que Rodriguez fez foi adiantar em quase quatro horas o jantar. Esta única e simples mudança parece ter desencadeado o dramático emagrecimento de Rodriguez – e novas evidências científicas podem explicar por quê.
Novos perigos de fazer refeições à noite
Nos laboratórios ao redor do mundo, os pesquisadores estão diante de um entendimento completamente novo sobre como funciona nosso metabolismo. Parece que o corpo humano é preparado para processar o alimento de maneira mais eficiente durante o dia. “Reconhecemos agora que nossa biologia responde de maneira diferente às calorias consumidas em momentos diversos do dia”, diz o Dr. Frank Scheer, neurocientista de Harvard. Isso significa que um hábito tão inocente como comer à noite, comparado com fazer refeições de valores calóricos equivalentes
durante o dia, pode proporcionar ganho de peso. “Aquela tigela enorme de sorvete devorada de noite pode ir direto para sua cintura”, revela o Dr. Christopher Colwell, neurocientista da Universidade da Califórnia e autor do livro Circadian Medicine (Medicina circadiana).
Vejamos os camundongos de Satchidananda Panda, biólogo molecular no Instituto Salk para Estudos Biológicos, na Califórnia. Panda é um especialista em como a hora da ingestão do alimento afeta a saúde. Sua equipe descobriu que camundongos que se alimentavam apenas durante suas horas de atividade (o equivalente às horas do dia para os humanos) são drasticamente mais saudáveis e magros do que aqueles que comeram a mesma quantidade de comida ao longo de 24 horas.
Quando os camundongos doentes que comiam o dia todo foram postos sob um horário de alimentação rígido que lhes permitia se alimentar apenas durante o dia, o diabetes e a gordura no fígado melhoraram e seus níveis de colesterol e marcadores de inflamação diminuíram. “Talvez possamos reduzir a gravidade [das doenças] simplesmente mudando a hora em que as pessoas comem”, explica Panda.
O relógio alimentar
Para entender a conexão entre a hora das refeições e a saúde, é preciso voltar na história. As mudanças dramáticas entre luz e escuridão em nosso planeta por causa do nascer e do pôr do sol foram incorporadas à biologia de quase todo ser vivo. Nossos órgãos internos funcionam de maneira diferente durante o dia e à noite, em padrões chamados ritmos circadianos. Ao longo dos últimos anos, pesquisadores descobriram que a exposição à luz artificial – isto é, ficar acordado até tarde da noite em frente à luminosidade de um monitor ou tela – mexe com esses ritmos de maneira que, com o tempo, pode levar a uma série de enfermidades.
Mas agora os especialistas começaram a suspeitar da existência de um segundo relógio circadiano no corpo: organizado pela ingestão de alimentos, e não pela luz. Os cientistas ainda têm muito que aprender sobre este segundo relógio, mas evidências sugerem que beliscar o dia todo pode ser tão perigoso para a saúde quanto a luz artificial à noite. Comer à noite é um fator importante no diabetes, nas doenças cardiovasculares, no câncer e em problemas de aprendizado e de memória.
Ao longo da evolução, o dia tem sido o período para a nutrição e a noite, para o jejum, e nossos órgãos evoluíram baseados nisso. Enzimas digestivas e hormônios seguem um padrão durante as 24 horas do dia, possibilitando ao fígado, aos intestinos e a outros órgãos digestivos funcionarem juntos e bem. Mas um mundo repleto de comida para viagem, doces e salgadinhos ameaça pôr de cabeça para baixo este papel regulador da comida.
“Quando comemos o tempo todo, nossos níveis de insulina e glicose estão elevados o tempo todo”, diz a Dra. Ruth Patterson, especialista em nutrição e epidemiologista da Universidade da Califórnia, campus San Diego.
A insulina promove o crescimento – sua presença constante na corrente sanguínea pode dar às células pré-cancerosas uma expansão mortal.
Em novas pesquisas com sobreviventes de câncer de mama, Patterson e seus colegas descobriram que a recorrência do tumor era menos
provável quando as mulheres abstinham-se de comer por pelo menos 13 horas à noite.
Pausa para o estômago: como isso funciona
Comparado com outros tipos de dietas, o jejum noturno é simples. Em um pequeno estudo piloto, a equipe de Patterson disse às mulheres participantes que jantassem de 18 às 20 horas e não comessem nada até as 8 horas da manhã seguinte, para deixar o “estômago descansar” por pelo menos 12 horas. “Elas entenderam instantaneamente [o jejum]”, disse Patterson. “Não tiveram de mudar o que comiam ou a maneira de preparar os alimentos.”
A nova pesquisa sugere que o café da manhã realmente é a refeição mais importante do dia – mas devemos compreender seu significado original: desjejum. A primeira refeição do dia é mais benéfica apenas se vier depois de 12 a 14 horas sem comer ou beber nada, reforça Panda.
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