segunda-feira, 3 de dezembro de 2018

UMA MÃE DESABAFA: " MEU FILHO NÃO GOSTA DE ESTUDAR!"




Ana Maria Diniz fala diante de um Colégio: Socorro, meu filho não gosta de estudar!
O desinteresse pelos estudos é crescente entre crianças e jovens – e a culpa disso não é dos alunos. Eles são reféns de uma escola obsoleta, feita para atender à média, sem levar em consideração a individualidade e complexidade de cada um
Ana Maria Diniz
A culpa sempre é dos alunos, cada vez mais indisciplinados, sem interesse por nada, provocativos, que perturbam a aula de uma minoria que ainda tenta se concentrar e aprender, dizem em uníssono os professores. Grande parte dos pais acaba influenciada e passa a acreditar que seus filhos são mesmo uns preguiçosos, desleixados, negligentes com os estudos.


Isso só contribui para a desvalorização do processo de aprendizagem.



O desinteresse pelo aprendizado é o assunto do momento nas salas de aula e de estar, o que faz todo o sentido. O desencanto com a escola é crescente e notório entre estudantes de diferentes idades e classes sociais, de escolas públicas e privadas – um tema crucial, que precisa, sim, estar no centro das discussões. Mas o debate, para ser efetivo, precisa ser sério.

Será mesmo que estamos diante de uma geração sem curiosidade e interesse em aprender? Eu não acredito nisso! Na minha opinião, essa é só uma mais resposta simplória para um problema ultra complexo.

Estamos vivendo uma revolução tecnológica de proporções tão transformadoras quanto a invenção da escrita, há mais 1 000 anos, e a invenção da prensa de Gutenberg, que permitiu a impressão em massa e popularizou os livros, há mais de 500 anos, diz António Nóvoa, reitor honorário da Universidade de Lisboa. Ela influencia nosso jeito de pensar, de ver o mundo e, logicamente, de aprender.

A escola, enquanto isso, ficou parada. Adotamos os mesmos métodos e continuamos a ensinar, a medir e a classificar os alunos como fazíamos décadas atrás. Pela média.

Temos escolas medianas que oferecem um conteúdo mediano para atender a maioria de seus alunos, medianos, que são avaliados por uma média burra e só passam de ano se estiverem dentro dos conformes. Só que a média como solução para tudo não funciona mais. Pertence a um outro tempo.

Graças à tecnologia e todas as suas possibilidades, hoje enxergamos e desenvolvemos aspectos únicos de cada um de nós de um jeito inédito, argumenta o americano Todd Rose, professor da Faculdade de Educação de Harvard, no livro The End of Average, How to Succeed in a World that Values Sameness (O fim da média, como ter sucesso em um mundo que valoriza a mesmice). Agora é a vez de a complexidade individual ganhar espaço e relevância, de se respeitar a diferença e a individualidade de cada um em todos os aspectos da vida, inclusive na Educação.

As escolas só irão, de fato, se reinventar e se aproximar do mundo real se perceberem e admitirem cada aluno como um ser único, com interesses, talentos e jeito de aprender próprios. Hoje já é possível ensinar de forma mais individualizada por meio do chamado ensino híbrido, método que integra tecnologia com elementos da sala de tradicional a fim de personalizar o aprendizado. Apesar de ainda insipiente na maioria das escolas, o ensino híbrido já está sendo aplicado em algumas instituições, e com ótimos resultados.

Para Rose e outros educadores, a personalização do aprendizado é um caminho que precisa ser trilhado, a única forma de se resgatar o interesse e a motivação dos estudantes. Mas para que isso aconteça, muita coisa tem que mudar. A começar pelos pais, que precisam participar mais rotina da escola, mas ainda se sentem tão perdidos na comunicação com os próprios filhos.

Várias ferramentas digitais foram lançadas na tentativa de encurtar a distância que separa os pais das escolas, as escolas dos alunos e os alunos dos pais. A maioria delas são aplicativos que facilitam a comunicação entre pais e professores, permitem às famílias acompanhar o desempenho e o comportamento das crianças em diversos aspectos da rotina escolar e disponibilizam conteúdos e propõem atividades para serem feitas entre pais e filhos. Algumas plataformas vão além do app e disponibilizam conteúdos e soluções em outros formatos, como vídeos, blogs e livros –inclusive uma que se chama Socorro, meu filho não estuda! (http://www.meufilhonaoestuda.com.br/)

Espero que ajudem pais, professores e alunos e sirvam como o primeiro passo na busca por um ensino de qualidade, que privilegia as diferenças, não as mesmices.

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