Uma moça tirou a blusa. Com tinta laranja, pintou os seios, que viraram duas rodas de bicicleta, com quadro e componentes rabiscados em verde e preto. O desenho parecia ter sido feito em uma aula de artes do primário, mas o importante é que a bike estava bem identificada em seu peito. Marcos , para acompanhá-la, tirou a cueca logo em seguida. Parecia uma cena ensaiada de tão natural: fotógrafos miraram suas câmeras para o busto da moça, jornalistas estenderam microfones e gravadores, e a dupla de cicloativistas se pôs a falar.
“Decidimos vir aqui pedalar sem roupa para mostrar que o ciclista não tem escudos quando se locomove pela cidade no meio dos carros”. “Só ficando pelado para os motoristas notarem a presença dos ciclistas nas ruas”, continuou o rapaz que, além de tênis, usava barba comprida e uma boina.
Mais de 300 ciclistas já ocupavam o canteiro central da Avenida Paulista, em São Paulo, em uma área conhecida como Praça do Ciclista. Pouco a pouco, eles foram se desinibindo e tirando a roupa. Talvez por uma questão cultural, as mulheres limitavam seus “strip-teases” ao topless, protegendo os seios com frases ou desenhos. Apenas uma morena magra, de uns 20 anos – que preferiu não se identificar porque “não quer ver seu nome circulando pela mídia” –, não se importou em deixar claro a preferência pela depilação Brazilian wax. A liberdade impera na Pedalada Pelada, e a única regra é que a roupa é opcional. Pode-se ir vestido ou não, pouco importa. O que vale é fazer coro para que os motoristas percebam a fragilidade de quem optou por se locomover em duas rodas pela capital.
Matéria originalmente publicada pela revista Go Outside em abril de 2014)
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