A mineradora Vale usou 4,6 toneladas do composto químico nitrato de amônio durante uma detonação, que aconteceu na cava da mina Córrego do Feijão, em Brumadinho, no dia em que a barragem da empresa se rompeu.
Os dados estão no documento chamado "Plano de Fogo". O jornalismo da Record TV teve acesso aos papeis, assinados por Edmar de Rezende, aplicador de explosivos da Vale.
Durante depoimento na CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) da Assembleia Legislativa de Minas Gerais, que investiga a tragédia, o funcionário da mineradora revelou que ocorreu uma detonação na mina no mesmo dia em que a barragem B1 estourou.
Segundo ele, a explosão, que já estava programada, aconteceu às 13h33, mais de uma hora após o rompimento da barragem — ocorrida às 12h28. No entanto, Eiichi Osawa, da empresa terceirizada Sotreq, disse na mesma audiência que teria presenciado a explosão entre 12h20 e 12h40.
Documento indica que detonação aconteceu às 13h33Reprodução / Record TV Minas
De acordo com a engenheira civil e especialista em barragens Rafaela Baldí Fernandes, a quantidade de nitrato de amônio utilizada é considerada “razoável”.
— Para calcular é preciso levar em consideração o tipo de rocha. Quanto mais dura, mais explosivo é necessário. A mina do Feijão é de minério de ferro, que são rochas bem rígidas.
Um vídeo gravado por funcionários da Vale mostra o momento da detonação.
Investigações
Nesta terça-feira (25), a Polícia Civil de Minas Gerais divulgou uma nota informando que investiga se a detonação colaborou para o rompimento da barragem, que ficava a 1,3 km do local da explosão.
Os investigadores querem confirmar se o procedimento ocorreu mesmo às 13h33, já que os dados foram preenchidos manualmente. Registros sismológicos podem ser uma alternativa para verificar.
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Rezende explicou que decidiu seguir com a detonação programada mesmo sabendo que a barragem havia estourado, uma vez que seria perigoso deixar os explosivos instalados e que não era viável retirá-los.
O Plano de Fogo assinado pelo funcionário da Vale mostra que as 4,6 toneladas de explosivos foram distribuídas em 62 buracos feitos na cava. O documento preenchido indica que o material foi colocado no local às 9h.
O relatório também mostra que as sirenes de detonação estavam funcionando e que a explosão ocorreria a uma distância mínima de 500 metros das pessoas.
A engenheira Rafela Baldí defende que Rezende tomou uma decisão correta ao prosseguir com a detonação.
— Foi uma decisão acertada porque deixar os furos carregados seria perigoso.
Procurada, a Vale confirmou que houve a detonação, mas afirmou que ocorreu após o rompimento da barragem, "por medida de segurança". A reportagem questionou a empresa sobre datas e horários das detonações anteriores, mas a mineradora não respondeu.
Veja a nota a íntegra da nota da mineradora:
"A Vale esclarece que, no dia 25/01, antes do rompimento da barragem B1, não houve detonação nas minas do Córrego do Feijão e Jangada. Após a ruptura, por medida de segurança, foram realizadas duas detonações que já estavam programadas para ocorrer, em distância e com cargas seguras. As detonações foram mantidas com o objetivo de eliminar qualquer risco vinculado à presença de furos carregados de explosivos no complexo do Córrego do Feijão.”
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