Não era o primeiro caso de trabalho escravo envolvendo a fazenda Brasil Verde. Uma denúncia de 1988 pela CPT (Comissão Pastoral da Terra) já falava do crime naquelas terras e do desaparecimento de dois adolescentes. Em 1989, a Polícia Federal encontrou violações trabalhistas muito parecidas com as vividas por Fabiano, mas não caracterizou como trabalho escravo. A Delegacia Regional do Trabalho do Pará em 1993 e outras duas fiscalizações do Ministério do Trabalho - em 1996 e 1997 - fariam o mesmo.
Em 1998, a CPT e o Cejil (Centro pela Justiça e pelo Direito Internacional) moveram uma ação contra o Estado na Comissão Interamericana de Direitos Humanos, da Organização dos Estados Americanos. Dois anos depois, 82 trabalhadores foram resgatados. O caso foi anexado aos documentos da Comissão "sob acusação de omissão e negligência em investigar diligentemente a prática de trabalho escravo na fazenda Brasil Verde, no sul do Pará, entre 1997 e 2000", como resumiu a historiadora Cristiana Rocha, professora da Universidade Estadual do Piauí, num doutorado dedicado ao tema.
Como a cronologia mostra, nessa época o Brasil já combatia o trabalho escravo. Tanto que, em 1995, reconheceu oficialmente, diante da Organização Nações Unidas, a existência do crime em sua forma contemporânea e a necessidade de combate-lo. Em 2003, diversas políticas públicas avançaram. A mudança mais impactante foi a alteração do Código Penal, que passou a definir condição análoga à de escravo a submissão ao trabalho forçado, a servidão por dívida, as condições degradantes de trabalho ou a jornada exaustiva. Como diz Antonio Carlos de Mello Rosa, coordenador do Programa de Combate ao Trabalho Escravo Organização Internacional do Trabalho (OIT), “o Brasil passou a servir de exemplo mundial para as Nações Unidas.” Pelo menos até aqui.
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