11 de outubro de 2019, 14h08
Desde o fim de agosto, manchas de petróleo têm aparecido nas praias da Nordeste, mas o problema só chegou ao radar do presidente Jair Bolsonaro e do primeiro escalão do seu governo nesta semana, quando a substância já havia sido detectada no litoral de quase todos os estados da região. Na segunda-feira (7), o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, visitou área atingidas e o presidente disse ter “quase certeza” que o derramamento de óleo é criminoso, sem dar mais detalhes ou explicações.
Aos Fatos desenhou o que se sabe até o momento sobre as manchas de petróleo nas praias no Nordeste e os impactos desse óleo que já atinge todos os estados da região.
O último relatório do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis), publicado na última quinta-feira (10), indica que já foram registradas 150 áreas com manchas de óleo, em 68 municípios dos nove estados do Nordeste. O Rio Grande do Norte é o estado com mais praias atingidas: 43.
Essa extensão de danos torna o derramamento de petróleo no litoral nordestino o maior já registrado dos últimos 30 anos em termos de área litorânea contaminada, segundo o pesquisador e professor da Faculdade de Oceanografia da UERJ (Universidade Estadual do Rio de Janeiro) David Zee.
De acordo com o Ibama, as operações de limpeza começaram no dia 2 de setembro e, atualmente, ocorrem em 11 áreas, com o apoio da Petrobras. Até a última terça-feira (8), haviam sido coletadas cerca de 133 toneladas de petróleo (cerca de 500 barris), segundo o presidente da empresa petrolífera, Roberto Castello Branco, em entrevista coletiva.
Apesar das proporções do derramamento, o governo ainda não conseguiu determinar de onde vem o óleo que suja as praias nordestinas. Uma das hipóteses é que pode ter havido um vazamento em um navio-tanque que transportava o recurso fóssil para longe da costa. Dois barris de petróleo foram encontrados em duas praias de Sergipe, o primeiro em Barra dos Coqueiros, no litoral norte; o outro, na Praia Formosa, na zona sul da capital, Aracaju.
O oceanógrafo e pesquisador da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco) Marcus Silva, em entrevista à TV Globo, disse que a origem do óleo seria um navio que passava pelo litoral pernambucano. Segundo estudo feito por ele levando em conta correntes marinhas, ventos e marés, o petróleo teria sido derramado pela embarcação a uma distância de cerca de 40 a 50 quilômetros da costa.
Até o momento, existem mais certezas sobre a origem de fabricação do óleo. Investigação do Ibama com apoio dos Bombeiros do DF aponta que o material que está poluindo todas as praias seja o mesmo. No dia 25 de setembro, a Petrobras já havia analisado as amostras de óleo e afirmado que ele não foi produzido pela estatal. Em relatório sigiloso feito para o Ibama, conforme informado pela Folha de S.Paulo, porém, a Petrobras enviou resultado de análise comparativa com o petróleo venezuelano, que tem características diferentes das encontradas no brasileiro. A conclusão reforça a suspeita de que o óleo que chegou às praias do Nordeste tenha vazado de algum navio.
Um estudo de pesquisadores da UFBA (Universidade Federal da Bahia), feito em parceria com especialistas da UFS (Universidade Federal de Sergipe) também concluiu que o petróleo tem correlação com um dos tipos de petróleo produzidos na Venezuela. Foram coletadas 27 amostras de resíduos ao longo do litoral de Sergipe e da Bahia, e nove delas foram submetidas a análises geoquímicas. Segundo os pesquisadores, nenhuma das variedades de petróleo produzidas no Brasil apresenta características semelhantes às encontradas nas amostras analisadas.
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