quarta-feira, 30 de setembro de 2020

JÁ LEU ESTE LIVRO?... Nietzsche - Oswaldo Giacoia


        


 

Entre os pensadores modernos, Friedrich Nietzsche (1844-1900) talvez seja o mais incômodo e provocativo. Sua crítica sobre a civilização denunciou a mesquinhez e a trapaça dissimuladas em nossos valores e convicções mais    firmes.
 O doutor em filosofia, Oswaldo Giacóia Junior,   no livro "Nietzsche", oferece uma introdução      sintética ao pensamento do filósofo alemão,       que permite ao leitor se familiarizar com os  conceitos de Nietzsche sobre os temas que afligem o ser humano.

                                                                       Segue abaixo fragmentos do livro:

Nietzsche se opõe a supressão das diferenças, à padronização de valores que, sob o pretexto de            universalidade, encobre, de fato, a                    imposição totalitária de interesses                 particulares; por isso, ele é também um              opositor da igualdade entendida como                              uniformidade. Uma das primeiras e mais fundamentais tarefas que Nietzsche se atribui é a de refutar  e destruir a metafísica platônica.
       Para Nietzsche, pode-se tomar a filosofia de Platão como modelo da metafísica. Esta se fundamenta numa concepção dualista do universo, tendo     estabelecido uma oposição de valores entre duas esferas distintas da     realidade ou do ser: de um lado, existe   domínio ideal, considerado como o verdadeiro  mundo ou real mundo, assim denominado por ser o plano essencial, isto é, aquilo que, em todo e querer fenômeno forma o seu pura conceito. Contrapondo essências inteligíveis, o mundo sensível é tradicionalmente considerado um plano de realidade deficitária, enganosa, mera visão de simulacro das formas inteligíveis e são como originais ou modelos dos quais toda realidade empírica, sensível, constitui uma cópia, necessariamente corruptível. Essa  realidade degradada, sujeita às condições do espaço e do tempo, que pertence nossa existência terrena e corporal.
                             Todo conhecimento é inevitavelmente guiado por outros interesses e condicionamentos que  são subjetivos, ideológicos; o conhecimento resulta da Projeção de nossos impulsos e anseios, razão que faz Nietzsche considerar sempre determinado por certa perspectiva, seja individual, seja sócio culturalmente determinada.
   Nietzsche é o filósofo que ousa colocar em questão o valor dos valores. Sua preocupação consiste em trazer à luz as condições históricas das quais emergiram os supostos valores absolutos, colocando em dúvida a pretensa sacralidade de sua origem.
                 Nietzsche empreende uma crítica radical das tendências culturais dominantes em seu tempo, haja vista uma caracterização de uma confiança ingênua nas ideias de evolução e progresso lógico ou natural, no curso dos quais a humanidade teria alcançado o estágio de desenvolvimento em que estaria em condições de, humanizando a natureza e racionalizando a sociedade, aproximar-se do ideal de felicidade universal.
            Nietzsche volta para Grécia pré-socrática, com propósito de nela buscar uma força originária, de que esperava um renascimento do espírito trágico na                                Europa, um contramovimento em relação                 ao  cientificismo otimista dos tempos modernos.
            O surgimento da escola socrática, com extrema valorização do pensamento lógico e da dialética, que representaria não um progresso em relação a Grécia pré-socrática, porém o contrário disso. Sócrates e seus contemporâneos já não estaria mais à altura da experiência trágica sobre o mundo, não conseguindo suportar o racionalmente incompreensível - o absurdo da existência.
      Para poder viver, o homem teórico busca refúgio na mesma fé ilusória que está na raiz da ciência moderna; isto é, ele se nutre no otimismo metafísico que está na base da racionalidade dialética: a crença na impotência do logos científico. O otimismo teórico que considera a ciência um remédio universal, que cura a ferida eterna do existir.
           A explicação de um fenômeno qualquer depende sempre da reconstituição dos momentos constitutivos de seu vir-a-ser, de tal maneira que o sentido atual desse fenômeno não pode ser obtido sem o saber da série histórica de suas transformações e deslocamento. Somente quando o sofrimento não for mais vivido como uma objeção contra a vida e um motivo para condená-la é que o homem poderá superar seu desejo de um além metafísico e seu rancor contra a passagem do tempo.
                    Fonte: Giacoia Júnior, Oswaldo. Nietzsche. São Paulo: Publifolha

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