Várias interpretações podem ser feitas sobre o texto abaixo; uma delas é de que nem tudo é o que parece.
John era um rapaz simples que vivia num humilde povoado, trabalhando duro para sobreviver. Sua vida não era fácil: todos os dias, acordava bem cedo e saía para a floresta, para obter lenha e, mais tarde, empregava todos os seus esforços para arar a terra. Ao longo de sua cansativa jornada, enfrentava diversos infortúnios - ligados ou não ao seu trabalho. Não eram raros os momentos em que John se queixava de sua vida e, principalmente, de seu trabalho. Apesar de sua árdua rotina, tinha alguns momentos de alegria e felicidade, propiciados, sobretudo, por sua namorada Cindy e seu melhor amigo Paul. Para John, estes eram os melhores - e talvez únicos - motivos para continuar com sua vida, por mais dura que fosse.Um dia, a desgraça veio a John: Cindy e Paul foram acometidos por uma doença que assolou o povoado onde viviam e acabaram morrendo, pouco tempo depois. Era o pior momento na vida de John, que não sabia o que fazer, pois seus bens mais preciosos lhe foram tomados pelo destino. Aparentemente, John não tinha mais motivos para viver e, todos os dias, desejava morrer - para se livrar dessa vida de solidão e desamparo e, quem sabe, estar novamente ao lado de seus amigos. Como se atendessem ao seu desejo, um dia a morte veio ao encontro de John, quando este caiu de uma ribanceira. Ao abrir os olhos, notou que estava vestido de branco e deitado em um belo jardim, que era ricamente preenchido por uma exuberante flora que ele jamais havia visto. A cor do céu era do mais puro azul e um agradável aroma, que ele não podia descrever em palavras, tomava conta do ambiente. Confuso, John tentava entender o que estava acontecendo; foi quando um senhor com uma reluzente indumentária branca veio até ele e lhe disse: – O senhor, infelizmente, veio a falecer no mundo mortal. Contudo, não há com o que se preocupar e nem o que temer, pois neste mundo não existe dor e terá a sua disposição todo tipo de prazer que desejar, por toda a eternidade. John, a princípio, se confortou com o que o tal senhor lhe disse, mas algo ainda o incomodava. Ao perceber isso, o mesmo senhor pediu para que ele o acompanhasse. John o fez e, após uma breve caminhada pelo jardim, surpreendeu-se ao encontrar sua namorada Cindy e seu melhor amigo Paul, que o cumprimentaram. – Como pode ver, senhor, também terá a companhia de seus amigos neste lugar. Espero que desfrute dessa felicidade por toda a eternidade. Apesar de morto, John poderia dizer que aquela era a melhor fase de sua vida, pois jamais tivera iguais momentos de puro prazer e felicidade, sem ser ameaçado por quaisquer infortúnios. Tais momentos se repetiram por consecutivos dias, ininterruptamente. John, a princípio, não desejava mais nada. Algum tempo depois, algo parecia estar errado na "vida" de John: por alguma razão, ele não se sentia satisfeito e aqueles momentos de puro prazer e felicidade estavam, pouco a pouco, cedendo lugar a períodos cada vez mais longos de tédio e desânimo. Depois de muito pensar, ele encontrou a resposta para sua insatisfação: seu trabalho em vida, que tanto lhe despertava reclamações, aparentemente lhe fazia falta, pois sempre foi um diferencial. Por mais irônico que parecesse, John desejava voltar a trabalhar. Assim, foi até o mesmo senhor da indumentária branca que o recebera, no começo: – Por favor, senhor, preciso que me responda uma coisa. – Em que posso ajudá-lo? – Este lugar é bastante agradável, mas sinto falta de algo.– E o que seria? – Gostaria de saber se aqui neste lugar há algum tipo de trabalho, alguma tarefa com a qual eu possa ocupar minha mente e meus esforços. – Infelizmente, isso o senhor não encontrará neste lugar.– Mas por quê? Foi o senhor mesmo quem disse que aqui eu teria todo o tipo de prazer que desejasse. – Isso mesmo, mas nosso líder não considera o trabalho como um prazer. Assim, ninguém que chega a este mundo precisa trabalhar. – Quer dizer que eu ficarei neste lugar para sempre sem nenhum trabalho? – Exatamente, senhor. – Se eu soubesse que passaria a minha eternidade num lugar assim, preferiria ter ido para o Inferno!
– E onde o senhor acha que está...?
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