Estudo verificou convergência semântica da fala dos moradores com o galego e constatou tendência ao desuso na população mais jovem.
Além do sotaque caipira com a pronúncia do “erre mais rasgado”, moradores de cidades do interior paulista, localizadas próximas ao Rio Tietê, têm um vocabulário peculiar. O terçol na pálpebra do olho pode ser viuvinha; a garganta, goela; o quadril de uma mulher tem a designação de anca ou “os quartos”. Uma pesquisa feita na USP mostrou que, embora ainda seja marcante, o dialeto caipira está caindo em desuso principalmente entre a população mais jovem e as mulheres. Os idosos são os guardiões do sotaque acaipirado. O estudo também apontou que o português falado nessa região e o galego (linguagem da região ocidental da Península Ibérica – Portugal e Galiza) possuem bastantes semelhanças lexicais. Cerca de 82,4% das palavras do vocabulário desses paulistas possuem correspondência com as unidades lexicais do galego.
Em entrevista ao Jornal da USP, a autora da pesquisa, Lívia Carolina Baenas Barizon, explica que o Rio Anhembi (atual Rio Tietê), por ter seu fluxo d´água correndo sentido continente, foi fundamental para a difusão da língua portuguesa e o dialeto caipira durante o início do século XVIII. Segundo a pesquisadora, “o dialeto caipira teria surgido nos núcleos familiares das cidades paulistas a partir do século XVIII e sido levado pelas monções para dentro do território paulista. Em sua caminhada rumo ao Mato Grosso (o Rio Tietê deságua no Rio Paraná, na fronteira com o Mato Grosso) para desbravar terras e retirar ouro, os bandeirantes saíam da capital paulista e seguiam a rota do Rio Tietê”,diz.
Nenhum comentário:
Postar um comentário