Convite triste,
de Carlos Drummond
de Andrade
Meu amigo, vamos sofrer,
vamos beber, vamos ler jornal,
vamos dizer que a vida é ruim,
meu amigo, vamos sofrer.Vamos fazer um poema
ou qualquer outra besteira.
Fitar por exemplo uma estrela
por muito tempo, muito tempo
e dar um suspiro fundo
ou qualquer outra besteira.Vamos beber uísque, vamos
beber cerveja preta e barata,
beber, gritar e morrer,
ou, quem sabe? beber apenas.Vamos xingar a mulher,
que está envenenando a vida
com seus olhos e suas mãos
e o corpo que tem dois seios
e tem um embigo também.
Meu amigo, vamos xingar
o corpo e tudo que é dele
e que nunca será alma.Meu amigo, vamos cantar,
vamos chorar de mansinho
e ouvir muita vitrola,
depois embriagados vamos
beber mais outros sequestros
(o olhar obsceno e a mão idiota)
depois vomitar e cair
e dormir.
Reflexão do Blog do Osvaldo:
Em síntese o grande poeta Drummond (1902-1987) celebra ao longo dos versos um amigo com quem partilha as horas boas (ao ver estrelas, por exemplo) e os momentos maus (dividindo o sofrimento).
Ele fala de uma série de situações cotidianas como a mesa de bar, as conversas ligeiras, a troca de ideias sobre os problemas conjugais tão frequentes no dia a dia e onde geralmente se vai buscar o colo de um amigo.
O eu-lírico elenca uma série de circunstâncias banais, com as quais todos nós conseguimos nos identificar, onde a presença do amigo se revela essencial.
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