Alfred Guillou - França 1844 /1926 |
- Tais Luso de Carvalho
Hoje, nossos aparelhos de televisão são de alta definição. Maravilhosos. Uma pessoa de 50 ou 60 anos aparece com pele de 30: aveludada, sem manchas, sem rugas e com um intenso frescor: uma boneca de porcelana. E muito filtro e Photoshop na jogada.
Quantas pessoas, portadoras de "Dismorfofobia" (transtorno psicológico caracterizado pela preocupação obsessiva de algum defeito físico) e, que ao saírem da frente da televisão, em direção ao espelho, não constatarão a triste diferença? Estas passarão a gastar horrores de dinheiro com cremes, com inúmeras cirurgias etc. para terem um rosto daqueles visto na televisão. E o Photoshop? Muitas pensam que aquela maravilha de pele é só maquiagem. Televisão e revistas vivem de imagens, quem não sabe disso?
Quantas mulheres não ficam decepcionadas ao enfrentarem os seus espelhos, querendo fazer um nariz mais fino, puxar os olhos, levantar as sobrancelhas e até arriscarem em ficar com a conhecida boca de repolho, sem contorno e sem beleza? E as bochechas lisas, que deformam a fisionomia e um belo sorriso? Não gosto disso, não é verdade.
As mulheres estão confusas, uma insatisfação com o corpo de dar pena. Virou moda colocar enxerto dos pés à cabeça. Menos nos neurônios. Não sei mais a quem querem agradar. Não existe ninguém que diga que a fulana ficou deformada! A impressão que se tem, nesses casos, é que o procedimento deu errado. Tiro no pé.
É bom quando aceitamos alguns defeitos esculpidos pelo tempo. Isso é vivência, é a nossa história. Ninguém, na nossa idade, – meia idade –, está com tudo certinho. E qual é o problema? Será que ninguém pensa que um dia envelhecerá? Diariamente, assistimos os estragos feitos pelas aplicações das químicas nos cabelos e na pele. E mesmo assim a coisa continua. Valha-me Deus! Triste é o exagero.
Ontem recebi um telefonema, oferecendo uma troca do nosso sistema atual de televisão para um mais perfeito, com imagens mais atraentes, mais lindas. Menos verdades, ainda?
Penso o tanto que somos iludidos quando aceitamos tantas coisas retocadas na televisão e nas revistas. Estamos comprando gato por lebre. Tudo é filtrado. Gente fabricada, gente que aparece só em sonhos.
Mas, aquela pessoa do Telemarketing não me largava – o que me deixou um pouco atacada dos nervos. Mas dei corda, perguntei-lhe a razão de maior perfeição se a atual imagem da televisão é ótima; que ninguém tem aqueles rostos e peles que aparecem na tela; que não existe natureza mais bela que o colorido dos animais, e que até as baratas ficam atraentes! Já é o suficiente.
Confesso que já estava cansada da insistência e após ouvir sobre a tal definição resolvi dizer:
– Negócio fechado, senhora!! Se vocês trocarem todos os espelhos da minha casa, se me pagarem algumas cirurgias; se minha pele ficar uma porcelana; se meus cabelos ficarem maravilhosos e se a minha alma não ficar vazia, eu faço a troca!
– Como??
– É isso, aguardarei resposta.
Desligou sem me dar um Tchauzinho; deve ter me achado muito esquisita..
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