Quando o Brasil foi eliminado da Copa, ouviram-se comentários irritados contra Dunga, contra jogadores, contra a CBF. Mas a frase mais comum foi o clássico Fazer o quê?, marca registrada do fatalismo brasileiro. Perdemos, fazer o quê? Poderia seguir-se o igualmente habitual seja o que Deus quiser, mas, considerando que o Senhor está um pouco acima das misérias do futebol, as pessoas resolveram, ao menos nesse transe, deixá-Lo em paz.
"Fazer o quê?" faz parte da tradição brasileira. Dá até título a uma composição dos Titãs, cuja letra diz: Não quero água, eu quero sede/ não quero cabeça, eu quero parede/fazer o quê, eu vou fazer o quê/ fazer o quê, o que é que eu posso fazer? e termina com um catártico F...!. Notem que nem a poderosa denominação de Titãs, que evoca os mitológicos gigantes da Grécia antiga, salvou o grupo do desamparo. No caso, esse desamparo resulta, não do destino, mas de uma invencível compulsão. O cara que prefere a sede à água, o cara que prefere, à cabeça, a parede que vai rachar a cabeça, esse cara realmente vai se ferrar, mas não pode evitá-lo: é o seu jeito de ser, fazer o quê? Aliás, é muito simbólico que este "quê" seja, de acordo com a ortografia de 1943, acentuado. O "que" aí não é a mera conjunção; é um termo significativo, por causa do enigma que envolve, e que resulta em desamparo para a pessoa que pergunta: "Fazer o quê?".
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